SOLIDÃO

“A Solidão é fera , a solidão devora, amiga das horas prima irmã do tempo…” (Alceu Valença)

A solidão é uma velha conhecida. Ela chega sem pedir licença, instala-se ao meu lado, e parece ter um talento peculiar para dilatar o tempo.

Quem nunca sentiu seus passos lentos nas noites mais escuras, quando as horas parecem se estender além do suportável?

Nessas horas, os ponteiros do relógio se arrastam, cada segundo pesando mais do que o anterior.

Há quem diga que a solidão é necessária. Talvez haja verdade nisso, mas é difícil perceber quando ela assume o papel de uma fera que devora o tempo, arrastando-nos para dentro de sua voragem.

Ela não faz barulho; ao contrário, o silêncio é a sua voz mais alta. E nesse silêncio, somos confrontados com tudo o que evitamos durante o dia.

Ela nos faz desacelerar, obriga-nos a encarar o que muitas vezes não queremos ver. Às vezes, é a sombra que nos acompanha pelas ruas desertas, ou o eco da Lua no céu, lembrando-nos de que, apesar de tudo, somos sempre, em essência, solitários.

Nesses momentos, o coração perde o ritmo, descompassa-se. A solidão, que parecia apenas uma leve brisa, transforma-se em um vendaval, remexendo tudo por dentro. A alma, que estava em repouso, é sacudida, e o que sobra é uma sensação de vazio, um vazio que parece não ter fim.

A solidão, quando não devora, ilumina. Ela nos ensina a olhar para dentro, a escutar o silêncio que há em nós.

E, por mais dolorosa que seja, é ela que nos lembra que, no final das contas, somos como as estrelas, que brilham solitárias no vasto universo.

E assim, seguimos. Com a solidão ao nosso lado, aprendemos a andar com passos mais lentos, a sentir o peso do tempo e a encontrar, nas entrelinhas desse silêncio, o que realmente importa. E, de alguma forma, o coração, mesmo descompassado, encontra seu ritmo, dançando no compasso único da vida que segue, inexorável e bela.