Entre Desfiles e Novos Valores

Crônica

Entre Desfiles e Novos Valores

Era 7 de setembro, e a cidade se vestia de verde e amarelo. O sol brilhava forte, iluminando as ruas enfeitadas com bandeirinhas e flores. As crianças, nas escolas, ensaiavam os hinos e coreografias para o desfile cívico que se tornara tradição. Era um dia de festa, um dia de exaltação da Independência do Brasil, um momento em que a história se encontrava com o presente, e a alegria reverberava nos sorrisos dos jovens que se preparavam para marchar.

Lembro-me daquelas arquibancadas lotadas, onde pai e mãe assistiam orgulhosos, aplaudindo suas crianças vestidas de marinheiros, de cientistas, e até de personagens históricos. Cada passo dado era um orgulho, uma reafirmação da identidade nacional, uma forma de conectar-se a uma história cheia de lutas e conquistas. As palavras "independência" e "sofrimento" se entrelaçavam, moldando a juventude para um futuro que eles, inocentemente, ainda acreditavam que seria glorioso.

Contudo, desenhando o tempo, percebo que a juventude de hoje respirou novos ares. O desfile cívico perdeu um pouco de seu brilho, e o que antes unia as famílias nas calçadas agora cede espaço a uma diversidade de interesses e valores. As bandeiras ainda são erguidas, mas, em vez do ecoar dos hinos, ouvimos gritos por justiça social, ambiental e igualdade de gênero. Os jovens se reunem não apenas para celebrar a história, mas para reivindicar direitos, expressar suas vozes em um mundo que se transforma a cada instante.

O que aconteceu com as marchas e as canções que preenchiam nossas memórias de infância? O que fez com que esses estudantes trocassem o êxtase da tradição pela urgência de causas contemporâneas? A resposta pode estar na própria essência do tempo: as novas gerações, enquanto respeitam o passado, já não se contentam apenas em repetir suas lições. Elas buscam entender o peso da história e alçá-lo a novos patamares.

O desfile, que antes era um momento de exaltação patriótica, agora me faz questionar: estamos realmente celebrando a independência ou apenas relembrando um marco? A juventude atual parece buscar significados mais profundos, questionando as estruturas que sustentam a sociedade. O patriotismo se redefine, não sendo mais apenas a vibração com as cores da bandeira, mas a luta diária por um Brasil mais justo e igualitário.

Se, por um lado, é doloroso ver o esvanecimento de tradições que ligavam gerações, por outro, é revigorante observar a revolução silenciosa que acontece nas mentes e corações desses jovens. Eles estão forjando suas próprias independências, libertando-se de estigmas e preconceitos, desafiando normas, e, com isso, redefinindo o que significa ser um cidadão em um mundo globalizado e interconectado.

Assim, ao olharmos para os desfiles e para a juventude de hoje, podemos perceber que, embora os tempos mudem e a forma de celebração se transforme, a essência de lutar por um futuro melhor e mais justo permanece viva. O que nos une, afinal, agora, é a independência que buscamos a cada dia, nas pequenas e grandes lutas que fazem do Brasil um país em constante evolução. É tempo de reverenciar o passado, mas também de acolher novas formas de ser e agir, em uma dança de passado e futuro que nos permite sonhar e realizar.

Vera Salbego