As aventuras do Gato intruso no "Poupa Lá"
Não bastasse a sempiterna crise energética a adiar o desenvolvimento da Ganda para as calendas gregas, a região decerto vem perdendo alguma atratividade para investimentos de pequenas e médias empresas, em detrimento do vizinho município do Cubal.
E o motivo - imagina - é bizarro. Porque assenta no misticismo. Isso mesmo. Aliás, era uma vez um gato-preto-estranho que andava ao derredor de uma loja da rede “Poupa Lá”, na cidade da Ganda. Nela era notável o vaivém dos clientes, levando, ao lado, a concorrência a um indisfarçável desespero.
Foi assim que, ao se aproveitar da distração de dois seguranças, entretidos em conversas daqui e dali, o felino, vindo de nenhures e rodeado de algum misticismo, entrou de fininho no estabelecimento comercial. Aqui, instalou-se!
Mas, a estadia do Gato intruso na loja do “Poupa Lá”, na Ganda, não podia ser melhor. Todas as noites, a história se repetia. Afinal, o miau, miau não estava aí para brincadeiras. Ele destruía sem dó nem piedade os produtos, nas prateleiras e mesmo no armazém. Ao abrir a loja, às manhãs, os funcionários ficavam assombrados.
O curioso é que nesse momento nenhum rasto do felino havia. Este mantinha-se tranquilamente escondido, durante o dia, sob uma enorme câmara frigorífica e inacreditavelmente imune ao frio severo dali resultante.
Avistado o predador, nem os funcionários nem os seguranças conseguiram desalojá-lo da sua estranha zona de conforto. Porém, os prejuízos, estes continuavam misteriosamente à noite: embalagens furadas e produtos sempre espalhados no meio do chão da loja.
Face ao insucesso dessas diligências, duas semanas depois, os seguranças, suspeitando e associando o caos dentro da loja aos olhares antipáticos da vizinhança, então acionaram o soba.
A missão não deixava dúvidas: travar a festança de um gato numa loja que apelava a todos à poupança, não obstante o contraste por conta do intruso suspeito.
Posto no local, diz-se que o mais-velho, com uma voz decidida, apontara para a direcção do irrespirável esconderijo onde o gato-preto-estranho estava, proferindo, em seguida, uma ameaça velada.
- Ah! O que você estás a fazer? Aqui, não é teu lugar – dissera o soba. Todos o ouviram.
- Sai já daí! – ordenara, em voz alta, como que dando um ultimato ao que diziam ser um kazumbi transfigurado em gato. Talvez um emissário de um comerciante local lesado com a fuga de clientes, em detrimento da abertura do “Poupa Lá”, na região.
Devagarinho, o Gato intruso, destruidor, saíra do local encolhido e, vindo pé ante pé na direcção do chamamento, entraria para um saco que o soba levava consigo. Por último, este amarrou o *kandemão e, sorrindo, retirou-se dali. Foi pasmo para todos.
Como um mal nunca vem só, com o gato à custódia do sobado, a loja do “Poupa Lá” enfrentaria, ainda, uma série de infortúnios, como cobras sinistras tentando entrar à vista de todos, em plena luz do dia, e até mulheres *bungulando desavergonhadamente à porta do estabelecimento, na calada da noite.
Esta combinação de eventos, envoltos por um misticismo, levaria, mais tarde, à falência desta loja. Razão do desabafo de muitos empreendedores, que, sem saída, adiam seus negócios para dia de “São Nunca”, na Ganda.