A epidemia da indiferença

Quando eu cheguei em casa, senti um alívio tão grande que chorei nos braços dela. As lágrimas lavavam de mim os sentimentos pesados, dolorosos, do dia. A dor física de uma doença, a dor emocional do mundo tocando a galope enquanto eu murchava em silêncio no oco da minha sala. Ufa, aconchego, banho quente, sopa, tá bom, era miojo da turma da Mônica sabor canja, mas me acarinhou a barriga dolorida ainda assim. Deitar, ah como eu precisava, como eu estava exausta, indignada com tantas causas. Abri a boca para desabafos irritados e imbecis e então o choque.

Se um vírus te pega num dia que você dormiu bem, se alimentou bem, está com a terapia em dia, com a vida em dia mesmo, é capaz que ele não passe de um espirro de leve no corredor do mercado. Mas, se o mesmíssimo vírus te pega na rebordosa, aí meu caro, é cama, chá quente e xarope. É meio que isso, eu não tinha minha sanidade para me amparar, me foi roubada pelas semanas e semanas seguidas doente, tomando antibióticos pesados e piorando, garganta, bronquite, sinusite e infecção urinária. Tudo isso em meio a trabalho, velas esquecidas, feira, pressões corporativas e pessoais.

Quando um colega de trabalho chega e te fala, “esse chefe filho da puta veio com essa de novo, vou pedir minhas contas, não aguento mais!”. A única resposta aceitável não é “mano, calma, pensa direito” e sim um sonoro “SIM! Ele é muito otário mesmo, ninguém suporta esse idiota!”. Chega dá um alívio na alma, acolhe a tensão, a irritação passa, a dor pulsa mais leve. Mas, você tenta explicar uma coisa assim para alguém e ouve “me manda o script da próxima vez”, como que conversa com quem não te ouve? Como que quebra a muralha dos conceitos predefinidos? Eu, honestamente, não quero perder o resto da minha sanidade com escutas passivas. HONESTAMENTE. Não precisa de muito para praticar a empatia, sabe? Só requer atenção. A triste verdade é que pessoas atenciosas são mais raras que diamantes hoje em dia.

Então quando eu disse que outubro teria 23 dias e que eu iria meter um atestado, eu queria dizer, meu Deus, se agora eu já estou além do meu limite, como eu vou passar por um mês tão longo? Ou desespero, desespero, desespero, estou desesperada!!! Também é uma frase válida. Diante do meu desespero, a resposta foi "se não aguenta pede as contas" e como ela mesma disse no Instagram no mesmo dia "O povo no lugar de nos entender, deixa a gente mais doido."

Mil vezes mais dor. Fim. Boa noite.

Canceridrama
Enviado por Canceridrama em 04/09/2024
Reeditado em 04/09/2024
Código do texto: T8144317
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