Bons tempos
Como eram bons aqueles tempos em que podíamos ser inocentes. Foi esta a conclusão a que cheguei quando me lembrei de um episódio da minha infância - acho que eu tinha então sete anos - e tinha ido com meus pais e minha irmã mais nova à casa de um amigo do meu pai. Eu adorei a casa porque ele tinha vários animais e cada uma das crianças tinha ganho uma maçã. Lembro que, andando um pouco, eu vi uns pássaros verdes que pareciam uns papagaios pequenos e logo fiquei encantada, dizendo:
-Olha, mãe, filhotes de papagaio!
Uma menina disse:
-Não é papagaio não. É periquito.
-Periquito? Perguntei.
-Isso mesmo. É periquito.
Eu, que até então não sabia que papagaios e periquitos pertencem a uma mesma família, comecei a encostar a maçã na gaiola e eles, como loucos, encostaram e começaram a beliscar a maçã e as outras crianças fizeram o mesmo. Ficamos nessa brincadeira até que minha mãe, vendo que um deles estava beliscando minha maçã feito um louco, falou:
-Minha filha, esse está muito guloso, vai beliscar seu dedo!
Nunca esqueci desse dia e sinto muita saudade de quando ser inocente não era um defeito. Também eram bons tempos aqueles em que crianças podiam brincar nas ruas sem problemas e se juntavam para pular amarelinha, jogar bolinha de gude e fazer outras coisas. E hoje? Elas vivem penduradas no celular, sabem mais do que eu sabia quando tinha sete anos mas, com certeza, não sabem apreciar brincadeiras de fazer bolo de lama, brincar na terra, especialmente as crianças que têm mais posses, que praticamente só sabem ficar vendo as mídias sociais.
Devemos mesmo admitir que nem tudo muda para melhor.