Agenor: O Coach da Falsa Moralidade

Vou contar uma situação que vivi há alguns anos. Tive o desprazer de conviver com uma figura que chamarei de Agenor. Sua história serve para mostrar a gênese, o DNA social de pessoas que ficam por aí falando besteiras, cheias de pompas, como se fossem profundas, mas que, na verdade são asneiras de autoajuda. Hoje, esse sujeito se coloca como alguém que inspira as pessoas a nunca desistirem, como se tivesse grandes ensinamentos de vida. Mas, como o conheci bem, posso dizer que é um grande hipócrita, um verme fascista, que agora tenta, creio que sem sucesso, enganar as pessoas.

No período pré-Bolsonaro, antes das eleições de 2018, no local em que trabalhei, tive momentos de convívio com Agenor. Ele tinha muita inveja do fato de eu gostar de viajar pela América Latina. Quando ainda o tinha nas redes sociais, ele via minhas fotos, perguntava sobre minhas viagens e, com a notória síndrome de vira-lata, comparava suas viagens às minhas. Falava sobre suas viagens aos Estados Unidos, com seu chapéu de pateta idiota, jogando neve nas filhinhas indo para o Canadá, como se tentasse me causar inveja. Enquanto isso, meu prazer era conhecer a cultura latina em toda sua riqueza em países como Colômbia, Chile e outros. Nada me importava com as férias dele.

Agenor também mostrava um espírito puramente homofóbico. Para tentar me atingir, me chamava de Jean Wyllys, em alusão a um antigo parlamentar brasileiro que é gay. Em contraposição, apesar de entrar na brincadeira, mas sentindo nojo de Agenor, eu o chamava de Silas Malafaia, apelido que tinha tudo a ver com ele: típico cidadão padrão comum, cristão, e de pura hipocrisia por trás. O meu apelido durou um tempo, até que um dia cansei e falei para ele: “Bom, se você acha que sou gay, traga aqui suas duas filhas e deixe-as cinco minutos comigo, que elas vão atestar se sou gay ou heterossexual.” Desde então, as piadinhas homofóbicas acabaram da parte dele.

Agenor também se dizia um homem cristão, de coração, que se sensibilizava pelas pessoas. Mas, no local de trabalho, por ter uma posição de hierarquia alta, adorava humilhar as pessoas, nada de amor ao próximo inspirado por Cristo. Humilhava muitos dos meus colegas, na certeza de que não teria represália, porque as pessoas precisavam do trabalho. Muitas vezes ele tentava, por meio de brincadeiras, me humilhar, apesar de não ser superior na minha função. E eu devolvia com brincadeiras cada vez mais sarcásticas e duras em relação a ele.

Se dizia formado em história, esse doutor Agenor, mas falava coisas absurdas, como se fosse um analfabeto em ciências humanas. Coisas como “a ditadura funcionou e trouxe desenvolvimento econômico para a sociedade”, entre outras atrocidades do ponto de vista científico. O infeliz também era um servidor público e, pasmem, defendia o estado mínimo. Era como se estivesse em cima de um galho de árvore, precisasse dela e tivesse um discurso para cortá-la, a qual sustentava seu trabalho. Ele falava em privatização e criticava a suposta amorosidade dos servidores públicos, sendo ele próprio um servidor.

Ele também era militar. Daqueles que se escondem na farda, tentam pôr medo nas pessoas, mas quando estão na rua, sem a farda, não afrontam ninguém. Gostava de dizer para mim que se estivéssemos na época da ditadura militar teria gosto de me prender, já que eu seria um militante de esquerda combatendo os podres milicos. E eu teria prazer em ser um guerrilheiro do Araguaia, por exemplo, para combater toscas pessoas como Agenor.

Ele, o moralista Agenor, era puramente hipócrita. Defendia os bons valores, a família, mas no trabalho, que era permeado de assédios de vários outros colegas de farda como ele, sempre passava pano, fingia que nada acontecia. Defendia a falsa moralidade desses sujeitos que, a todo instante, mesmo casados, estavam assediando colegas de trabalho.

Passaram-se alguns anos e tive o prazer de não ter mais contato com Agenor. Fui trabalhar em outro local e não sei o que aconteceu com esse infeliz. Há poucas semanas, esse sujeito veio me adicionar nas redes sociais, mas, obviamente, não o adicionei. Vi que agora ele se transformou em um coach, espalhando um monte de asneiras mundo afora.

E aí estão esses tipos de pessoas que se dizem inspirar a sociedade, dizer coisas profundas, mas que, na verdade têm péssimas formações de valores e só dizem obviedades ou mentiras. A grande questão é: por que os coaches fazem tanto sucesso? Por que pessoas como essa espaço para serem ouvidas? Desconfio que ressuscitam a destroçada ideia de meritocracia numa sociedade extremamente desigual e injusta como a nossa. Criam nas pessoas, no senso comum, nas massas, a ideia de que, no meio da pobreza e do trabalho extremo, sendo exploradas através da mais-valia, podem conseguir algo economicamente através do próprio suor. É lamentável que se faça esse tipo de discurso.

Além disso, os coaches, como vi no perfil de Agenor, sempre estão bem colocados com bens de consumo. Isso serve para construir um espelho de desejos que, no fundo, mascara as desigualdades da sociedade. Aliado ao discurso de meritocracia, formam uma visão de que as pessoas podem alcançar um padrão inalcançável para a maioria. Por meio de uma visão simplista e desonesta, distorcem a percepção do mundo, negam as desigualdades e as estruturas que mantêm as condições extremamente injustas deste sistema econômico. Operam uma visão linda e fantástica de que as pessoas podem conseguir algo nesse mundo. É lamentável que existam tantos Agenores por aí.

03.09.2024

Dennis de Oliveira Santos
Enviado por Dennis de Oliveira Santos em 03/09/2024
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