MEU AMIGO PSIQUIATRA

Em um desses dias, encontrei um amigo que há tempos não o via. O rapaz, um conceituado psiquiatra, é bem mais novo do que eu. Depois de alguns cumprimentos, examinei-o de cima a baixo com a intenção de avaliar a aparência do companheiro. Estava elegantemente vestido de terno e gravata, do jeito que costumava trabalhar. No entanto, estranhei que calçava um par de tênis, em vez de sapato. Antes que iniciasse qualquer comentário, ele já veio com a explicação:

– Não repare, Saulo. Estou com uma terrível tendinite no tornozelo, o que me impede de usar sapato.

– Exagerou na academia... – brinquei.

– Não. Ao contrário, sou extremamente sedentário. Passo o dia inteiro sentado e não faço nenhum tipo de exercício.

– Cara, você tem que se exercitar – aconselhei. – É uma prevenção para que esteja saudável, quando chegar à minha idade. Será benéfico à tua saúde física e mental.

De repente, me senti ridículo. Eu, um leigo, dando orientação médica e psiquiátrica a um médico psiquiatra. Mas como já tinha iniciado a conversa, fui em frente.

– Deixa eu te contar um fato: eu e um grupo de velhos, todos na faixa de 60 a 80 anos, jogamos tênis de campo três vezes por semana, há mais de quarenta anos. Faça chuva ou faça sol, inverno ou verão (as quadras são cobertas), nós estamos lá para praticarmos nosso esporte preferido. Após quase duas horas de jogo, vamos tomar um relaxante banho de sauna. Em seguida, nos dirigimos ao bar do clube onde comemos um petisco ou saboreamos um churrasco, sempre acompanhado de cervejas estupidamente geladas. Por um bom tempo, fofocamos, discutimos sobre os grandes problemas do país, falamos um punhado de besteiras e damos muitas gargalhadas das piadas que contamos e das gozações que fazemos um do outro. Parecemos extrovertidos adolescentes em uma excursão do colégio.

Admirado, ele olhou para mim e apenas disse:

– Não acredito. Assim, vocês nunca vão ser meus pacientes.