A Violência Como Necessidade de Resistência Contra a Injustiça e a Falácia do Pacifismo

Eu estava lendo sobre a história da comunidade indígena paraense Arara e sua luta para defender suas terras e cultura contra desmandos governamentais e a cobiça de fazendeiros. E a partir dessa leitura eu refleti sobre a necessidade da resistência coletiva. Quando um grupo social é explorado, tem suas riquezas roubadas ou são feitos escravos, de que forma devem responder a essa violência? Devem ter uma atitude baseada em uma violência revolucionária para vencer a opressão ou devem ter uma postura baseada no pacifismo de contornos cristãos como foram o caso de Martin Luther King e Mahatma Gandi?

Se um povo quer paz, se prepara para a guerra. Se um povo oprimido anseia liberdade, é na violência que encontra o caminho para derrotar o opressor. Nada de pacifismo barato que é descontextualizado das situações concretas vividas pelos povos e serve de discurso para legitimar e prorrogar a dominação do opressor.

Assim foi com o escravo africano liberto do europeu, com os índios guerreando contra colonizadores, e com os proletários exterminando a família do czar na Rússia. Enquanto a mídia burguesa aprisiona a opinião pública na cela da ignorância, transformando agressores em doces vítimas, é legítima a resistência palestina da opressão do Estado de Israel, por exemplo. Enquanto o exército israelense, carrasco sedento de sangue, exibe seu talento em humilhar e produzir cadáveres, a resistência se justifica.

Mas voltando ao caso que originou a reflexão, durante a ditadura militar brasileira (1964-1985), a comunidade indígena Arara, localizada na região amazônica, enfrentou uma série de desafios e sofrimentos. Eles, assim como muitos outros povos indígenas, foram vítimas de políticas que desconsideravam seus direitos e territórios. A construção de grandes obras, como estradas e hidrelétricas, invadiu suas terras, resultando em deslocamentos forçados e violência. A resistência deles, no entanto, foi marcada por uma luta feroz e determinada contra a opressão do Estado.

O fato é que a violência por parte dos opressores é uma parte intrínseca do capitalismo e das relações de classe. Eles veem a guerra e a violência não como aberrações, mas como produtos inevitáveis do sistema capitalista. Diante disso, a oposição à violência “em geral” é vista como utópica e sem sentido, pois não leva em conta as condições específicas e as formas de violência que surgem das relações de poder existentes.

Em situações de opressão social, a sociedade oprimida deve estar preparada para se defender contra a violência que lhe é direcionada. O pacifismo pode levar à derrota de movimentos revolucionários, de revoltas legítimas.

Além disso, é notório a hipocrisia dos capitalistas, dos países imperialistas, que promovem o pacifismo enquanto continuam a se beneficiar da guerra e da violência. Basta ver isso no país mais terrorista do mundo, os Estados Unidos, que criam guerras a todo instante (Iraque, Afeganistão) ou articulam ditaduras militares (como o caso do Chile) para simplesmente terem o poder sobre a riqueza dessas nações. Depois posam da forma mais odienta para o mundo que está preocupado em levar democracia aos quatro cantos do planeta.

O pacifismo muitas vezes ignora as realidades históricas e sociais das lutas de classes e das opressões. A paz verdadeira não pode ser alcançada sem enfrentar e resolver as contradições e injustiças sociais. Sem contar que o tal pacifismo pode ser um instrumento usado pelas classes dominantes para manter o status quo, manter seus privilégios e dominação.

Ao promover a não-violência de maneira abstrata, o pacifismo pode desarmar movimentos de resistência e revolução que buscam mudanças profundas. A verdadeira paz só pode ser alcançada através da emancipação das classes oprimidas e da superação das estruturas de dominação e exploração.

A resistência dos Arara durante a ditadura militar é um exemplo claro de como a violência pode ser uma resposta necessária à opressão. A luta deles não foi apenas uma defesa de suas terras e direitos, mas também uma resistência contra a violência do Estado e as forças reacionárias que buscavam mantê-los subjugados. A história dos Arara coloca por terra a noção de pacifismo, mostrando que, em muitos casos, a violência é a única resposta possível para alcançar a verdadeira liberdade e justiça.

Em vez de oferecer a outra face para continuar a ser explorado a exemplo do ensinamento de Cristo e das passeatas pela paz lideradas por King. É necessário a rebelião, organizar coletivamente o povo numa violência contra o opressor que concretamente alcance a liberdade, como fez Guevara e Sankara nas periferias do mundo.

30.08.2024

Dennis de Oliveira Santos
Enviado por Dennis de Oliveira Santos em 30/08/2024
Reeditado em 30/08/2024
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