BARCOS E TEMPESTADES

E se o barco virar? Eu fico à deriva, esperando alguém me salvar, ou morro afogado, sem ter como respirar, não sei como isso vai terminar. Posso estar errado, mas não é todo dia que um barco vira, pelo menos os que estão em alto mar, levando cargas e pessoas por esse mundo de meu Deus.

Não estamos todos no mesmo barco, tem o barco mais confortável, aquele com mais regalias, e tem o barco mais popular, sem regalia nenhuma e com as cabines muito simples, o mar é o mesmo para ambos, e a tempestade que cai para um cai para o outro também, com efeitos diversos, claro, conforme a conta bancária de cada um.

O barco mais cheio de tecnologia consegue vencer melhor a tempestade dando menos trabalho ao timoneiro, já o barco menos tecnológico já precisa de um timoneiro mais safo para vencer a tormenta e continuar navegando. Eu não acho que a tempestade faz o bom marinheiro, porque se ele não for bom o suficiente antes dela não terá tempo de aprender durante. Portanto, o cara já precisa ser bem treinado anteriormente, ponto para o barco dos ricos.

Mas se o barco for a pique, coitados de todos os passageiros, os ricos e os pobres, pois o destino que lhes espera é tenebroso, virar comida de peixes, ficar à deriva boiando sozinho ou ficar à deriva em um bote salva-vidas, com um monte de gente desesperada por viver gritando que não quer morrer. Depois é que são elas, os ricos voltam para suas mansões, os pobres para seus apartamentos financiados, os ricos vão psicólogo para cuidar do trauma, pagam

advogados caríssimos para processar a empresa dona da embarcação, os pobres, coitados, lutam com a insônia, ficam desorientados, não recebem um centavo de indenização e perdem os seus empregos, além do mais têm que arcar com o resto das prestações da viagem dos sonhos.

Sei não, mas eu prefiro não estar em barco algum, nem no chique e nem no pobre, não me dou bem com esse troço, são instáveis e me deixam enjoado, prefiro pisar em terra firme, mas essa também não está assim tão firme quanto deveria, então, tento voar, pelo menos na imaginação, que ainda é de graça, assim, se eu caio, é só de volta na realidade mesmo.