Hoje quero falar com vocês sobre

 

A FOLHA, O VENTO E O CUIDADO

 

Espero que a mensagem seja acolhida por você, caro leitor.

 

 

      Hoje, ao sair de casa, fui fazer uma aula experimental num estabelecimento da cidade. No meio dos exercícios, o professor pediu-me que seguisse alguns comandos. Deitei-me num pequeno colchonete, estendi as pernas, encostei uma panturrilha na outra e senti o peso do corpo afundar no tecido macio. Então, ele deu um último desafio: segurar uma folha de papel sulfite. Era preciso mantê-la ali, suspensa no ar, sem deixá-la cair. Consegues imaginar a dificuldade? Talvez, para alguns, pareça fácil, o que é compreensível. Mas logo percebi que o exercício não era apenas físico; era, na verdade, um convite para refletir sobre a nossa própria fragilidade.

      Naquele momento, durante um simples exercício, comecei a refletir sobre a forma como nos relacionamos conosco mesmos. Tudo depende de como estamos, tanto fisicamente quanto mentalmente. À primeira vista, segurar a folha parecia uma tarefa simples, mas a verdade é que não era. A nossa relação com os outros é como aquele papel: delicada, leve, mas vulnerável a qualquer movimento brusco. Em alguns momentos, tornamo-nos como o papel sulfite — frágeis, expostos ao menor dos ventos. A sutileza e o cuidado com que lidamos com palavras, atitudes e até com o simples ato de caminhar podem fazer toda a diferença. Um deslize e a folha cai, tal como um gesto impensado pode ferir.

      Lembra-te: podes ser a melhor pessoa, fazer o melhor pelo outro, mas o outro sempre te acolherá conforme o estado em que se encontra. Precisamos respeitar isso, sem nos culparmos. Cada um vê o mundo através da lente da sua própria felicidade, do acolhimento, da dor ou do sofrimento. As pessoas não enxergam apenas a nossa presença; veem também os ecos das suas emoções refletidos nas nossas ações. Não somos tudo o que carregamos dos outros, nem somos o que os outros carregam de nós. Somos cuidadores, zeladores de folhas que podem cair, mas que, com delicadeza e atenção, evitamos que causem ainda mais dor àqueles que já estão fragilizados.

      Assim, devemos segurar a nossa própria folha com cuidado, com uma sensibilidade que transcende a nossa experiência individual. Porque, no fundo, somos todos um pouco folha e um pouco vento, numa dança constante de equilíbrio e compreensão. O desafio não é apenas segurar o papel, mas fazê-lo sem machucar o que está ao nosso redor. Afinal, essa é a nossa verdadeira aventura: ser gentil com a fragilidade que todos carregamos.

Vicente Fialho
Enviado por Vicente Fialho em 29/08/2024
Reeditado em 29/08/2024
Código do texto: T8139558
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