Pablo Marçal na Era dos Idiotas Triunfantes

 

     Bem-vindos à era do triunfo, onde a burrice e a mediocridade andam de mãos dadas com a tecnologia de ponta. O palco? As redes sociais, esse gigantesco megafone global que transformou o idiota da aldeia em uma celebridade local. E, claro, quando o assunto é política, as redes sociais não só amplificam, mas coroam os idiotas com o brilho dourado de uma estátua de mau gosto.

     Pablo Marçal, candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PRTB, é o exemplo perfeito dessa alquimia moderna. Investigado pela Polícia Federal e pela Polícia Civil, responde a processos na Justiça como quem acumula likes em um post de meme. E o mais divertido — ou trágico, dependendo do seu ponto de vista — é que ele não esconde a estratégia: “Estou ‘usando’ o PRTB e posso sair se for eleito”. Quem diria que o político camaleão agora troca de partido como quem troca de filtro no Instagram?

     Afinal, como dizia Eric Schmidt, ex-CEO do Google, as redes sociais são “amplificadoras de idiotas”. Mas o que Schmidt não previu é que essas plataformas não só amplificam, mas celebram, enaltecem e dão palco para os Marçais da vida. Nas redes, o idiota triunfa, não pela sutileza do pensamento, mas pela virulência das suas postagens, pela capacidade de reduzir tudo a memes fáceis e frases de efeito. O que importa não é a profundidade, mas a superficialidade embrulhada para presente, pronta para ser compartilhada por milhares de outros idiotas ansiosos por se sentirem parte de algo.

     Nelson Rodrigues, com seu olhar clínico e cínico, já havia alertado: os idiotas tomariam conta do mundo, não pela capacidade, mas pela quantidade. E cá estamos, vivendo a profecia rodrigueana, onde a quantidade suplanta a qualidade, e o barulho ensurdecedor das redes sociais silencia qualquer tentativa de diálogo inteligente. Umberto Eco, mais tarde, complementou essa ideia ao dizer que a internet havia promovido o idiota da aldeia a portador da verdade, com o mesmo direito à palavra que um Prêmio Nobel. E assim, no vasto terreno fértil das redes sociais, o idiota não só encontra seu espaço, mas floresce como nunca.

     Mas a pergunta que fica é: onde isso vai parar? Será que, em breve, teremos um exército de Marçais, todos usando partidos como trampolins, todos manipulando as redes como mestres de uma orquestra desafinada? E nós, meros espectadores, seremos obrigados a assistir a esse espetáculo grotesco, onde o talento, a ética e a inteligência são substituídos pela esperteza, a demagogia e o oportunismo?

     Talvez a solução esteja em desligar o Wi-Fi, desconectar-se desse mundo onde o idiota é rei e buscar refúgio em um lugar onde a inteligência ainda tenha valor. Ou talvez devêssemos seguir o conselho de Nelson Rodrigues e rir da própria desgraça, porque, no fim das contas, o humor ácido ainda é a melhor defesa contra a estupidez triunfante.

 

Jeferson Santos Albrecht
Enviado por Jeferson Santos Albrecht em 27/08/2024
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