OXIMORO CAMONIANO

Certas coisas parecem fadadas a não acontecer. Não por falta de desejo, nem por ausência de oportunidade, mas porque simplesmente pertencem a um outro plano — esse território nebuloso das possibilidades que nunca se concretizam. Permanecem lá, etéreas, pairando no campo das ideias, sempre límpidas, sempre disponíveis para serem colhidas nos sonhos. E somente ali.

São amores que se completam na própria incompletude. Oximoros camonianos, daqueles que ficam quando vão. Porque há sentimentos que, mesmo interrompidos ou nunca plenamente vividos, resistem ao tempo com a teimosia das boas lembranças.

Bandeira entendeu isso como poucos. Condensou tudo num único verso: “A vida inteira que podia ter sido e que não foi.” E ali está — minha Pasárgada pessoal — iluminada pela lembrança do teu sorriso. Eu sei, não é mais o mesmo. Sei também que brilhou, e talvez ainda brilhe, a outros de formas distintas. Mas na minha imaginação, ele permanece intacto, vestido com o entusiasmo incólume da primeira declaração.

Se eu fosse mais hábil com as palavras, talvez descrevesse com riqueza de detalhes os clichês românticos. Mas, na prática, eles se repetem com uma uniformidade surpreendente quando a vida realmente acontece. O coração, esse míope, não faz distinção entre o inédito e o já vivido.

O Bruxo do Cosme Velho, sempre cirúrgico, escreveu: “É melhor, muito melhor, contentar-se com a realidade; se ela não é tão brilhante como os sonhos, tem pelo menos a vantagem de existir.” É verdade. E negar a lógica dessa afirmação seria ingenuidade.

Mas — com licença, Machado — eu ainda teimo. Teimo em dar vida a um lirismo meio coxo, torto, talvez anacrônico. Um lirismo que, se não é capaz de me levar até Pasárgada, ao menos pulsa aqui dentro. E, enquanto pulsa, existe. Como certas coisas que parecem fadadas a não acontecer. Mas, ainda assim, ficam.

Lusca Luiz da Silva
Enviado por Lusca Luiz da Silva em 09/04/2025
Código do texto: T8305645
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