Quando te deixei ficar
Quando te deixei ficar no que não era,
nem céu, nem chão, nem porto e nem partida,
foi quando mais te quis, ó primavera,
que não se deu à flor da minha vida.
Te vi no tempo, onde o tempo não me espera,
e em cada gesto teu, fui despedida.
Fiz morada em teus olhos de quimera
e chorei por amar-te à luz vencida.
Mas se te deixo, é por amor profundo:
não prendo o que é do vento, nem do mundo.
Mesmo assim, levo em mim tua lembrança.
E se um dia perguntares quem te amou,
te direi: foi quem por fim te libertou,
sem matar no peito a esperança.