Saudades do Porto

O porto funcionava onde hoje não funciona mais: nas proximidades do Mercado Público Municipal. Ali era o começo - ou o fim - porque a outra ponta ficava na Indústria de Arroz Zilmar. Isso foi há muito tempo, antes mesmo da 2a Guerra Mundial.

Naquele tempo ainda não existia a ferramenta que viria a aparecer anos mais tarde: o guindaste. O transporte do carvão até o porão dos navios era feito em caixões de querosene, por homens musculosos que trabalhavam em fila indiana como se fossem formigas. O carvão era oriundo das minas de Criciúma, trazidos pelas Marias-fumaças da Estrada de Ferro Dona Teresa Cristina.

Após a guerra, o Porto mudou-se para onde se localiza o Porto Pesqueiro. Diversificaram os produtos transportados.

Além do carvão, eram enviados para o Rio de Janeiro, Santos, e outras regiões do Brasil e do exterior, farinha, cebola, feijão, fécula, açúcar, jacás de carne de porco, fardos de carne de boi, etc.

A madeira que era trazida de Bom Jardim da Serra seguia para a Argentina se fosse de primeira qualidade, e se fosse de segunda, infelizmente continuava no Brasil, no Rio ou norte do país.

O Porto funcionava a todo vapor, digo a toda carga, até 1963, quando o povo se abismava de ver grandes navios estrangeiros. O recorde de navios no Porto foi 13, que aguardavam melhoras nas condições do tempo para sair na barra. Por outro lado houve época em que os navios permaneciam 17 dias, até que houvesse condições de sair, pois nessa terrinha já faz tempo que o vento nordeste é forte o suficiente.

É difícil acreditar, mas na Lagoa, em frente ao mercado, um hidravião de nome Taba pousava sobre as águas límpidas e mansas.

Esta crônica atiça as saudades dos ex-portuários, de seus filhos e netos que conviveram com o cais, com a farmácia, com o escritório, com os armazéns e empilhadeiras. Esta crônica revolve especialmente minha saudade da empilhadeira, o primeiro veículo motorizado que meu pai dirigiu. Motor de tantas fantasias de minha infância.

Aroldo Arão de Medeiros

09/03/2009

AROLDO A MEDEIROS
Enviado por AROLDO A MEDEIROS em 31/03/2025
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