UM CONCURSO MONUMENTAL...

UM CONCURSO MONUMENTAL...

"Quem escreve, o faz para não morrer;

quem lê, lê para imaginar que vive"!

AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA

Nos anos 1990 participei de muitos Concursos literários, boa parte de Poesia, em muitos casos de TROVAS. Ao contrário da poesia "que se esparrama pelo chão", enchendo duas ou 3 páginas, a Trova exige concisão, lirismo, se possível rima rica e mensagem filosófica em meros 4 versos, exíguas 28 sílabas. Naqueles tempos, ainda se usando os Correios, os certames chegavam a ter 350 ou 400 poemetos, por vezes mais, algo próximo dos 250 trovadores do Brasil inteiro.

Pois o Século 21 nos apontou com surpresa Concurso literário -- com marketing apenas nas Redes Sociais (Facebook, entre outros) -- e que iniciou lá por 2018 ou 19 já com perto de MIL textos, ou seja, uns 900 autores, com alguns entrando com duas obras, até 3. Sem patrocinadores nem apoio oficial, o evento cresceu, "duplicou" (são 2 por ano) e expandiu-se. Tem jurados internacionais e, pasmem, findando hoje, 10/3/25, tinha no dia 8 mais de 150 páginas de autores, 1 obra por linha... imaginem o TOTAL de inscritos !

Desde que me conheço enquanto "autor de rabiscos" ouço "falarem mal" das coletâneas, principalmente as pagas. Não hesitam em apontar falta de qualidade nelas, "amadorismo" (?!), inexperiência. Muitos esperam por uma poesia "marciana", espécie de "aeróbica rimada (ou sem)", elucubração mental que poucos entendem. Isso é muito injusto, POESIA é expressão da alma de cada um, quando começa a ser "ginástica cerebral", contorcionismo (?!) literário, se distancia do lirismo, do sentimento ligado ao espírito de cada vivente. Ainda que fique interessante, pode ser... "muito elaborada, às vezes é, mais ENGENHARIA do que poesia. (...) Ora, a Poesia é, às vezes, algo mais simples e por isto mesmo difícil de alcançar", diz Affonso Romano de Sant'Anna em entrevista de 1993 ao jornalista de Belém Elias Ribeiro Pinto. (in DIÁRIO DO PARÁ de 8-9/março de 2025, pag. 12, cad. VOCÊ)

E continua "batendo firme" em vanguardistas e "concretistas", digo, nos concretos: "ninguém pode embarcar na linguagem alheia, tem que descobrir seu próprio Canto. Não adianta querer ser Pavarotti, se nasceu para João Gilberto e vice-versa". "O que existe por aí é uma louvação ao que era novo ontem e ficou velho. Aquilo tudo virou Arte oficial, academicismo. O século XXI está esperando uma revisão para poder surgir". (...) "O pessoal que fica fazendo tese e chovendo no molhado, falando o já sabido (...) deveria começar a procurar TEMAS E AUTORES novos, que os há muito". (...) "Quando criei a revista "Poesia Sempre", um dos objetivos foi ABRIR ESPAÇO para esse poetas espalhados pelo país". (Affonso R. Sant'Anna, GRIFOS meus)

Aí está o OBJETIVO maior das coletâneas e desses Concursos, ainda que, no fundo, se pretenda "faturar" jogando com a vaidade de cada escritor "de gaveta". Convenhamos que descobrir, REVELAR um novo Autor (velho ou jovem) com algum brilho é uma nobre missão... os que vencem as barreiras naturais e se classificam entre os finalistas -- seja de um Prêmio JABUTI, de um Oceanos ou destes dezenas de eventos "tupiniquins" -- tendem a continuar na estrada da Literatura. Sou um deles, estou entre 90 outros na criticada coletânea da polêmica "SHOGUN Arte", de março/1985, embora ela não fizesse revisão dos textos, erro crasso a meu ver.

Editoras têm compromisso com a língua pátria, não podem "massacrá-la" visando apenas LUCROS. Se somos todos "meio cronistas" das nossas vivências e das alheias, sempre haverá POETAS e contistas a serem descobertos. Eis a função maior desses Concursos e coletâneas !

De PARABÉNS está a editora gaúcha "CBL - Casa Brasileira de Livros" por seu estupendo concurso, marco para entrar no GUINESS BOOK. Não tenho os dados que definem seu recente "7º Prêmio PRATA DA CASA", mas ele é a vitória da persistência e a realização maior de um sonho concretizado. O Caminho é esse... dar vez e VOZ ao escritor amador, ao Autor "de gaveta" ! "Quem não ajuda, que não atrapalhe !", bem nos disse mestre "Boca Rica", da Capoeira baiana.

"NATO" AZEVEDO (em 10-11/março de 2025, 3hs)