EU, BISA

 

Na foto mal tirada sou eu criança sentada no chão batido da porta da casa da minha avó materna, acariciando uma cachorrinha. Ali, naquela solidão e tristeza por ter perdido a minha avozinha subitamente, eu jamais poderia imaginar o que viria pela frente. 

Pulando etapas, o que tenho a contar é algo muito simples, normal.  Tornei-me mãe, avó e bisavó.

O que me espanta nesses acontecimentos é o fato de não ter interlocutoras nas mesmas condições para trocar experiências.

Quando fui mãe, as amigas, na mesma faixa etária, ainda estavam morando com os pais e namorando à moda antiga. Meu diálogo, dúvidas e orientações eram tratadas com a Revista Pais & Filhos. Quando vieram os netos, as amigas estavam trocando fraldas ou levando os filhos para a creche, em total descompasso com a minha realidade. Nas reuniões eu ficava fora das conversas na maioria das vezes, porque viajava, ia a festas, cinema com a liberdade e descompromisso que elas não possuíam.

Agora, outra vez estão chegando meus bisnetos. Sabem o que minhas amigas fazem? Levam os netos para a escola, cuidam deles para que filhos, noras e genros possam trabalhar, viajar de férias, descansar.  De novo fiquei fora da caixinha. Curto muito essas três gerações que vieram de mim, mas quero fazer programas e passeios condizentes com a nova realidade.

Ao participar das atividades no mesmo Grupo percebo que novamente tenho um espaço limitado.  Quero contar sobre as proesas dos pequenos, sobre o quanto é emocionante acompanhar cada passinho deles do ponto de vista de Bisa, que é diferente do de avó. Mas vejo que não há espaço para falar das minhas criancinhas, das emoções da experiência de ser bisavó. Elas querem contar sobre os netos adolescentes, trazendo a discussão e troca de experiências para essa fase da vida dos filhos e das crias deles que - convenhamos - não é nada fácil nos nossos dias.   

Resolvi seguir o que meu médico mandou. Voltei para a academia de musculação e para o pilates. 

Continuo indo às reuniões...e falando pouco. 

​​​​​​Fui eu que me adiantei ou foram elas que se atrasaram?

Bsb, 12/02/2025

 

 

Sandra Fayad Bsb
Enviado por Sandra Fayad Bsb em 12/02/2025
Reeditado em 12/03/2025
Código do texto: T8263277
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