EROS
O AMOR DOS ROMÂNTICOS
Nelson Marzullo Tangerini
Dizem os críticos - e as más línguas - que Olavo Bilac, mesmo sendo um poeta parnasiano e pertencente à tríade daquele movimento, ao lado de Alberto de Oliveira e Raimundo Correia – os três escreviam sonetos perfeitos, à moda de Camões, embalados pela cultura greco-latina -, cometeu seus deslizes românticos.
Joaquim Maria Machado de Assis, que se tornou um grande mestre do Realismo brasileiro, iniciou sua carreira como um poeta romântico – foi amigo de Casimiro de Abreu, conheceu Castro Alves -, tornou-se um escritor romântico, até abraçar, enfim, o Realismo.
Na faculdade de Letras, lá pelos anos 1980, os professores nos contavam essas histórias, que fui encontrar, depois, nos livros dos críticos literários.
Desde cedo achei os românticos muitos chatos, com exceção do Castro Alves político, abolicionista, e tornei-me mais simpático aos naturalistas e aos realistas, mais pé no chão.
Nessa época, envolvido por essas histórias, andei escrevendo alguns metapoemas ou mesmo ironizando determinados poetas que derramavam sentimentalismo.
Em casa, tinha um pai poeta que participou da Roda do Café Paris, Niterói, RJ, anos 1920, que pertence à geração pós parnasiana, ainda não estudada.
Daí escrever, nessa época de faculdade, um poema criticando o sentimentalismo dos românticos:
.
“O AMOR DOS ROMÂNTICOS
Sinto-me inexausto
para falar de amor,
das banalidades
e dos lugares comuns
como o ‘Velho amor
com amor se paga’.
.
O sol brilha menos intenso,
o vento é menos feroz,
a chuva é mais amena,
o pássaro canta uma canção de amor
e flor no jardim tem mais perfume.
.
Nos corações, o sentimento transborda,
deixando-nos repletos de ansiedade:
O dia não termina
e o relógio não apressa
a hora do encontro
com a namorada.
.
E assim a história se repete
por longos e longos anos
porque o amor, incendiário,
é indecifrável
e não se deixa decifrar
- como a pedra inicial da criação:
vai além do célebre e clássico
soneto de Camões.
.
E, a Eros, esse anjo invisível,
que anda pelos jardins
a flechar o coração dos tolos,
que um poema lhe faça jus
por corações partidos
e noites mal dormidas”.
.
Em 1947, em sua revista carioca O Espeto, o poeta Nestor Tangerini, que também era um afiado caricaturista cubista, soltou uma charge em que aparecia um casal de namorados, num jardim. O rapaz perguntava à moça: “- Se eu morresse amanhã, tu chorarias?” A moça, não tanto romântica, lhe respondia: “Então, você não sabe que eu choro à toa?” A brincadeira era, sem dúvida, uma crítica ao sentimentalismo de Álvares de Azevedo, poeta paulista como Tangerini.