O perfume
Era um aroma que não pedia licença para entrar. Tomava conta do espaço como um segredo sussurrado ao vento, deixando o ar impregnado de mistério. Chegava antes do homem, mas ficava muito depois de sua partida. Um perfume que era quase uma presença, uma assinatura invisível, um toque sem contato.
Notas de couro queimado e pimenta negra traziam o calor do deserto, enquanto um toque sutil de baunilha e fava tonka suavizavam sua intensidade, como mãos firmes que também sabem acariciar. Havia também uma profundidade amadeirada de oud e sândalo, que falava de terras distantes, onde o sol se põe devagar e a noite é carregada de promessas.
Era como se aquele perfume sussurrasse histórias nunca antes ouvidas, mas ansiadas por serem vividas. Uma lembrança de algo que nunca aconteceu, mas que parece urgente, necessário.
Mesmo quando o perfume partia, ele não se ia por completo. Ficava no ar como uma memória persistente, um toque intangível que se recusava a desaparecer. Não era apenas um aroma; era uma presença, uma marca. Uma promessa de tudo aquilo que não pode ser explicado, apenas sentido.