E não eram de Cecília Meireles
O moderno e estiloso terminal rodoviário Israel Pinheiro, de Belo Horizonte, que tinha assinaturas de Niemeyer e de Lúcio Costa, foi inaugurado em começos de 1971. À época foi um marco, não só para a capital mineira, que ainda sentia viva a perplexidade com o colossal infortúnio do Parque de Exposições da Gameleira, cujo teto desabara, em ciclópico desastre, mas que trouxe sim algum consolo à mineiridade que passou a se orgulhar então da mais bela e funcional estação rodoviária da América Latina...até o Terminal Tietê de São Paulo entrar em cena uns poucos anos depois.
Eu que experimentara improvisações temporárias anteriores, não podia deixar de me embevecer com o novo statu quo, desfrutando o conforto, a iluminação e o arejamento acolheredores daquele novo tempo...e, já residente em Belo Horizonte desde 1969, foi naquele espírito que, no começo de uma noitinha de dia de semana, acompanhei papai para o seu reembarque para Pitangui. Veterano daquelas jornadas ocasionais, papai gostou muito do que viu com um bom tempo de folga até pegar a condução da Santa Maria que tinha várias frequências entre as duas cidades.
Eu, de novo...vivia agora meu terceiro ano do curso de Letras e iniciara o de Geo-Ciências pela UFMG, ambos coincidentes e conflitantes até, no prédio da FAFICH da rua Carangola, 88, entre o sexto e o sétimo andares ...no mais, lecionava inglês no Colégio Municipal nas lonjuras de Contagem e na Escola Fisk ...com pouco tempo até para os negócios de cupido, do futebol ou de cinema...mas não me queixava daquela azáfama toda...vivia aquela irrefreável sensação d´avoir vingt ans...
E ali, de repente, na quietude do terceiro pavimento da nova rodoviária, não sei se tomávamos um lanche, ou uma Brahma, eis que ouço os trocs trocs trocs de uns tamanquinhos, que não eram de Cecília Meireles: eram de Zélia Cheib, jovem colega do curso de Geo-Ciências que, acompanhada de algum parente, ou amigo, viera conhecer o novo terminal e ... ali inspirar poesia ...suavemente, com seu sorriso imaculado, e seus cabelos negros, curtinhos, repicadinhos...troc, troc, troc...