Arthur e o nosso Flu ... espia só...!
O mundo orfeônico, ou da música, para se dar à reverência um biotônico, pranteia a partir de ontem o grande Arthur Moreira Lima, pianista consagrado, e ainda consangrando, em palcos do mundo. Numa de suas maiores proezas de início de celebrização, esse torcedor roxo do Tricolor das Laranjeiras, cuja paixão só se compara com as de Nelson Rodrigues e de Chico Fluarque de Holanda, faturou o segundo lugar no concurso quinquenal internacional Chopin de piano de Varsóvia ...quando a glória suprema coube à também e tão bem extraordinária Martha Argerich, pianíssima argentina. Impossível negar que não tivesse havido polêmica na decisão e nos muitos anos a seguir, de duas das mais fulgurantes carreiras no mundo da música clássica.
Eu vivi na capital polaca por toda a primeira metade da década dos oitenta e mesmo sendo tune-deaf de nascença e de sabença, vi, ouvi e sobrevivi àquela intensidade chopiniana...até porque minha saudosa companheira, Beatriz Lina, pianava, . primeiro com seu Ibach tanto surrado quanto reafinado, como depois com o seu brand new Yamaha Baby Grand, sempre domesticamente...
Mas vamos voltar o artístico Arthur que do mundo da música nunca saiu ... Há coisa de uns dez anos fui encontrá-lo no Carpe Diem, de Brasília, por ocasião de um entusiástico lançamento de livro, não por acaso, da autoria de Osires Resende, cunhado vitalício, quengadeiro baiano arretado - acho que cometo aqui um triplo pleonasmo, mas vá lá ...- e por uma casualidade, compartilho mesa e uns momentos do o tricolor Moreira, que mais que o da Silva, era Lima, de metronômica rima...
Arthur, em meio a geral burburinho, contou-me que quando de um de seus tours pela então União Soviética, sabia bem que seus passos eram minuciosamente vigiados...pelos dois lados... tanto pela temível KGB quanto pelo não menos infame SNI...bem daqui...
E em meio a uma agravada tensão pre-concerto em Moscou, ou Moscovo como querem os portugas, Arthur ardia por saber o resultado de um prélio decisivo (e todos eles eram decisivos...desde as monocórdias goleadas de um a zero, sob o comando eterno de Zezé Moreira...) de seu tão-adorado Fluminense Futebol Clube... Do hotel onde se hospedava, passou longuíssimos minutos aguardando uma chamada para o Brasil, para falar com sua mamãe... Completada a ligação, quis saber logo e sofregamente do resultado do jogo... e, sua amorosa mãezinha, que sabia tanto de futebol como Romeu Zema sabe de Adélia Prado, apenas repetia nada saber nem ter a ver com o esporte bretão, eis que surge uma misteriosa voz masculina na ligação:
- Nosso Flu ganhou, dois a zero!