Escravo da noite
O homem triste tinha medo da noite. Se escondia do escuro. Entristecia-se com o entardecer de mais um dia repetitivo e eterno. Contando às horas angustiado, à beira de um colapso, e quando bate às 17:30 se desespera. Cansado, exausto, com medo, lembrando o fatídico dia em que perdeu a esperança pela vida e desde então não recuperou a sanidade. Severamente transtornado, sozinho em casa, se vê diante daquele enorme espelho, vendo o que a loucura o fez fazer, o que ela o transformou. Não mais um homem, e sim um monstro terrível, aquele que fere somente à si mesmo. Se senta na cama, liga seu abajur de lâmpada amarela, olhando a luz dançar diante de seus olhos tristes e vazios, sentia uma necessidade imprescritível de sair e ver como a lua se deleitava lentamente sobre o céu vazio e imenso, algo pequeno que também lhe causava pavor. A rua deserta, os postes acesos trazendo luz para a calçada, a noite extensa, torturante, junto aos cães que latiam incessantemente, com o fim, talvez, naquela mente perturbada, atazana-la e enlouquece-la mais ainda. Janelas grandes, portas pequenas, o barulho do silêncio o matava a cada som desprevenido, a cada movimento falso do vento, o acordava novamente do sono e da canseira que lhe seduzia para o mundo dos sonhos. Tudo era perigoso, era estranho e desconhecido, como se não houvesse saída para ele, mas ele não lembrava a entrada e nem como chegou ali. O homem sentia culpa, sentia que aquele tormento era necessário, para que ele pagasse a conta, a qual não sabia que tinha feito.