Vago
O que há hoje nesse meu coração? O que vem a ser esta nova sensação esquisita? Ela não me apavora, não me irrita, nem tampouco me tranquiliza ou alegra. É só ela, inquieta, insegura, difícil, poe assim dizer, em definir. Ando exausto, e não é do trabalho que eu tenho realizado, bem feito e com capricho. Simplesmente exausto, exaurido, e não é tampouco dessa minha nova atividade de escrever. Estou cansado, de fato.
O que eu queria hoje? Um bom copo de um suco refrescante, qualquer sabor, e a minha casa fresca, toda bagunçada, a minha bagunça favorita, mas fresca e aconchegante. Queria o meu velho sofá, todo rasgado pela gata, de tanto que ela tenta amolar as unhas nele. E a minha música favorita na televisão, para relaxar; e se tiver fome, uma meia dúzia daqueles biscoitinhos salgadinhos que vendem em pacotes bonitinhos na padaria da esquina. Nada mais.
Cansei do agito, da correria, do vozerio, da gritaria, do buzinaço, das conversas vazias. Cansei do celular, do computador, a internet no geral está me irritando, não os quero mais por companhia. Só o silêncio da minha sala vazia e fria com a sua bagunça familiar, e este teu sorriso, claro, o teu sorriso lindo, vindo de vez em quando da cozinha, me trazer um beijo úmido com o cheiro de algum tempero especial do jantar.
Cansei-me de tudo, mas disto eu não abro mão. És tu o meu mundo, fresco e calmo, da manhã clara e reluzente, ao pôr-do-sol colorido escurecendo, calmamente, até a noite se fazer negra estrelada.
Cansei da correria, do tumulto, cansei de ter de comprar, isto, depois aquilo, e visitar fulano, depois sicrano. Eu não gosto mais de visitar ninguém, e as visitas aqui em casa são escolhidas. A minha mente débil precisa de descanso e relaxamento. Cansei de conversar e de tentar expor o que penso e sinto. Tudo o que aqui dentro existe quer ficar exatamente onde está, meio morto, meio sem sentido, meio que só vegetando. Quer luz, água fresca e um pouco de sombra, mais nada. Meu ser precisa e implora por este momento único, totalmente vago.