Nossa vida a dois

Como disse meu pai muitos anos atrás, num mundo tão grande escolhi exatamente você para caminhar comigo; aliás, nos escolhemos e permanecemos assim, numa cumplicidade que nos fortalece dia a dia.

Há 50 anos – precisamente em 21 de setembro de 1974 –, eu, Vanda Maria Marques Rodrigues e João Jacinto Neto, dois seres apaixonados, resolvemos nos unir em matrimônio.

A princípio, a ideia central era apenas se casar no civil. Mas, por exigência dos meus pais, melhor, do meu pai, nos casamos no religioso também. Hoje compreendo suas razões.

Após seis anos de casados, resolvemos nos mudar aqui para Mossoró/RN, onde residimos até hoje. Tenho mais tempo de vida aqui em terras potiguares que em minha terra natal.

Como digo sempre, sou mossoroense de coração, pois aqui estou por opção e amor.

Inúmeros foram os nossos avanços no Rio Grande do Norte. Em Natal, nasceu nossa filha caçula e eu voltei a estudar. Já na terra de Santa Luzia, concluí com sucesso os primeiros estudos e dei continuidade a outros tantos. Fiz concursos públicos com êxitos – hoje, sou aposentada e vivo uma vida tranquila. Tenho boas e sinceras amizades, plantei árvores, escrevi livros e sou muito feliz.

Aqui nos fortalecemos profissionalmente e criamos com sucesso os nossos filhos, todos já formados e responsáveis pelos próprios caminhos.

Nossa história é uma caminhada digna de ser lembrada sempre, mas a cada “vinte um de setembro” é impossível não voltar no tempo e rememorar cada passo dado em prol do compromisso que compreenderia a mais sublime das decisões por mim tomada: o “SIM” diante do altar da Igreja de Santo Antônio do Pari.

Quantos retalhos foram precisos para compormos a colcha que hoje nos acalenta!

Necessário se faz citar que nem sempre os retalhos tinham a estampa desejada. Entretanto, cada um cumpriu e cumpre a sua senda no enredo da nossa vida.

Quantas vezes o céu se tingiu de cinza e chorou copiosamente diante das nossas inseguranças, angústias e tristezas. Contudo, vale dizer que, em tantas outras, ele ficou multicor, conspirando com as nossas alegrias e realizações.

O caminho à nossa frente nos incita a seguir adiante. Na virada de cada esquina, há um novo ensinamento a ser assimilado e registrado.

Por vezes, diante do espelho – um dos meus reflexos – percebo, nas linhas acentuadas da minha cútis, o quanto já vivi. Ao mesmo tempo, fico intrigada, mas não me abalo com o segredo sobre o tanto que ainda me resta. Procuro degustar cada segundo de vida que me é ofertado.

Agradeço a Deus todos os momentos vividos. Agradeço por minha família, minhas conquistas pessoais, meu casamento, meu esposo – “baianinho”, como é chamado em minha família e por mim também –, meus filhos, genro, noras, minha netinha. Enfim, por minha vida.

Que me seja permitido assim continuar reiniciando os muitos ciclos da minha vida a dois. Sim, voltamos a ser dois apenas, pintando cada passo com os matizes do amor.

Que assim seja!