Choraria tormentos
O vento soprava forte naquele dia e batia contra o rosto de Deisy. Ela estava sentada sozinha em uma toalha de piquenique na praia. As ondas impiedosas faziam um barulho assustador, mas ela não parecia nem um pouco perturbada com isso. Qualquer um naquela situação teria recolhido suas coisas, empilhado no carro e ido embora, mas não Deisy. Ela abriu seu livro e tentou ler, mas as páginas voavam de um lado para o outro, e ela as segurava com força. Longos minutos se passaram com ela tentando ler pelo menos uma página, até que se cansou. Soltou o livro na toalha — ele era pesado demais para o vento levar. Seus olhos marejados passearam pelo local vazio. Ela mordeu forte os lábios e pensou no que estava fazendo ali, sozinha naquela situação.
Olhou ao redor e não viu nenhum de seus amigos com quem tinha combinado essa viagem há um ano. Sua cabeça estava cheia de pensamentos, arrependimentos. O passado a perseguia, e uma culpa crescente a consumia. Sinceramente, ela não sabia o que tinha feito de errado, mas como sempre, aceitaria a culpa, se acusada. Só que dessa vez ninguém disse nada. Pela primeira vez, em vez de jogarem tudo na cara dela, eles simplesmente se afastaram aos pouquinhos. Agora estava sozinha e perdida. Ela apertou forte os olhos, os cerrando contra o livro. "101 maneiras de entender seus próprios sentimentos", dizia a capa. No primeiro momento, Deisy sorriu para aquele título tosco, mas agora suas lágrimas manchavam a toalha, e o livro já não era tão útil.
Ela se forçou a enxugar as lágrimas e resistir. "Eu não vou chorar, eu não posso. Se eu chorar aqui, isso significa que sou fraca, que eu não consigo mudar nada", disse para si mesma. Então deu um grito de agonia e raiva, alto o suficiente para rasgar o silêncio do local.
— Ouvi dizer que gritar ajuda quando estamos estressados — Deisy se assustou com a voz e olhou para o lado, reconhecendo seu melhor amigo. Primeiro, se sentiu intrigada com a presença dele ali. Balançou a cabeça, incrédula. Já fazia tanto tempo que não conversavam.
— Como você chegou aqui?
— Eu soube que ninguém ia vir e pensei que você precisava de companhia, querida — o mesmo tom doce de sempre. Com certeza era o Jonathan que ela conhecia.
— Fiz errado em vir?
— Não, jamais. Sua presença me alegra.
— Você parece abatida. O que aconteceu?
— Estou com dor.
— Onde dói?
— Em todo lugar.
— Tem algo que eu possa fazer para ajudar? — A preocupação na voz dele foi reconfortante para Deisy.
— Me abraça, por favor — o pedido foi dito como um sussurro sofrido, quase inaudível, como se fosse um pecado pedir algo assim. Deisy sentia como se estivesse perdida em uma imensidão inalcançável, achando que não era digna de compaixão. Para ela, nenhuma mão seria estendida e nenhuma palavra de conforto seria dirigida.
— Vai parar de doer se eu te abraçar?
— Não.
— Então por quê?
— Me confortaria, e isso já é o suficiente.
— Você quer chorar?
— Muito.
— Então chore.
— Não posso.
— Por que não?
— Se eu chorar, significa que sou fraca. Pessoas fortes não choram e eu... — Antes que terminasse a frase, sentiu-se ser abraçada com força pelo amigo. Foi reconfortante, e ela o apertou com força, sentindo-se segura.
— Só alguém muito forte reconhece suas fraquezas. Você é a pessoa mais forte que conheço, Deisy.
— Mesmo assim, chorar não adiantaria nada. Não faria parar de doer.
— E se adiantasse? O que você faria?
— Eu choraria tormentos, gritaria a plenos pulmões até sentir o ar faltar e minha garganta arder.
— Então faça isso. Chorar vai te libertar. Você se sentirá mais leve e, finalmente, as coisas farão algum sentido.
Por um momento, houve um silêncio agoniante no ar. Só se ouvia o vento violento contra o mar, mas então ele foi rompido pelo choro baixo de Deisy. Não havia mais resistência.
— Eu sinto muito, devia ter prestado mais atenção em você. Me perdoa — sua voz embargada buscava força para sussurrar essas palavras entre os soluços.
— Tudo bem, meu anjo, não é sua culpa. Você precisa seguir em frente. Afinal, você ficou, e essas coisas são difíceis para quem fica.
— Eu te amo, Jonathan.
— Eu também te amo muito, Deisy. — Ele desfez o abraço e se afastou. — Acho que vai chover, você deveria ir para casa.
— Eu vou te ver de novo?
— Não acho que precise mais, mas, caso sim, eu volto — Jonathan olhou para o mar, depois para o livro. — Esse lugar é tão tranquilo — ele a olhou no fundo dos olhos. — Você não precisa desse livro. Só tem que perguntar a si mesma.
Deisy se levantou e juntou suas coisas em silêncio. Depois, olhou para o lugar onde seu amigo estava há poucos segundos, mas agora não havia mais ninguém ali, além dela. Deisy derramou mais algumas lágrimas de tristeza e saudade e se aproximou do mar.
— Até o ano que vem, meu amor — após essas palavras, ela jogou uma coroa de flores na água, como nos anos anteriores. — Obrigada por cuidar de mim, mesmo de longe.
Ela não viu, mas de algum lugar, Jonathan sorriu para ela em resposta.