O Tempo que Queríamos Viver

Éramos pequenos gigantes em um mundo que parecia infinito. Cada manhã era uma promessa de aventura, e o dia, uma tela em branco onde desenhávamos nossos sonhos. O céu era mais azul, o vento mais suave, e os risos... ah, os risos eram fáceis, como se a alegria fosse a nossa língua materna.

Brincávamos até o sol se esconder, sem nos preocupar com o amanhã. Não havia pressa, não havia medo do tempo. O tempo era nosso aliado, esticando-se generosamente para caber mais uma história, mais uma corrida, mais uma gargalhada.

Os pés descalços conheciam o caminho de casa, sentindo a terra fria, a grama úmida, as pedrinhas que contavam histórias de mil brincadeiras. Cada esquina era um universo, cada amigo, um cúmplice em travessuras que pareciam o maior segredo do mundo. O gosto de fruta mordida no quintal, o cheiro de chuva caindo na terra quente, o som das folhas secas sob os pés — tudo isso fazia parte de uma sinfonia que só quem viveu sabe reconhecer.

Acreditávamos em tudo e em todos. A alma era leve, carregada apenas pela esperança de que o dia seguinte fosse ainda mais incrível que o anterior. A vida era simples, e na simplicidade, encontrávamos a maior das felicidades. Era o tempo dos primeiros amores, das amizades eternas e das descobertas que nos faziam sentir que o mundo, apesar de imenso, cabia nas nossas mãos.

Saudade... não é só do que vivemos, mas de como vivemos. Daquela coragem despretensiosa, da certeza de que tudo daria certo no final. Quando a noite chegava, deitávamos a cabeça no travesseiro, e o sono vinha rápido, como um abraço, nos levando para mundos onde a fantasia ainda era possível, onde éramos heróis, reis, astronautas, sem nunca duvidar que o impossível era apenas uma palavra.

Mas, no meio dessa liberdade, havia algo que nos fascinava: o mundo dos adultos. Olhávamos para eles com olhos curiosos, ansiosos por crescer, por alcançar aquele universo misterioso onde as festas duravam até tarde e as regras pareciam diferentes. Sonhávamos com o dia em que seríamos grandes o bastante para participar, para fazer parte daquilo que parecia tão emocionante. Mal sabíamos que, ao chegar lá, descobriríamos que o verdadeiro tesouro estava naqueles dias simples, na inocência que deixamos para trás.

Hoje, já adultos, percebemos o quanto éramos apressados em querer crescer. E agora, o desejo é de voltar, de resgatar aquela despreocupação, aquela sensação de que o tempo era infinito. Como seria bom se ele pudesse passar mais devagar, se pudéssemos segurar um pouco mais aquelas manhãs preguiçosas e aquelas tardes intermináveis de brincadeiras.

Agora, ao olhar para trás, é como se uma parte de nós ainda estivesse lá, correndo por aquelas ruas, rindo daqueles risos, sentindo aquela liberdade que só a infância conhece. E, mesmo que o tempo tenha passado, ele não conseguiu apagar a essência do que fomos. A infância ainda vive em nós, nas lembranças que nos fazem sorrir, na saudade que aperta o peito e nos lembra que, por um breve e doce momento, fomos felizes de uma maneira que só as crianças podem ser.

E no final, só resta o desejo de voltar, nem que seja por um segundo, para aquele lugar onde tudo era mais simples, mais colorido, mais nosso.

Barbeirorafa
Enviado por Barbeirorafa em 31/08/2024
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