XXI - Segurando a Mão do Pai
Segurando a mão do Pai
Série Crônicas – Texto 21
Certa vez fui ao banco com a minha filha maior, quando ela estava com cerca de cinco anos, nos tempos em que ainda tínhamos que ir às agências para fazer operações que hoje fazemos facilmente em casa.
Quando saímos da agência nos vimos na necessidade de atravessar a avenida em frente, pois o nosso carro estava em um estacionamento do outro lado dela.
Até hoje a Avenida Conselheiro Carrão é muito movimentada e a mais conhecida no bairro Carrão, na zona leste da cidade de São Paulo.
Mas, apesar de estarmos próximos a um cruzamento com semáforo, não havia uma faixa de pedestres ali e eu decidi a atravessarmos assim que chegamos ao limite da calçada do banco, pois vi que havia um grande intervalo entre os carros, o qual permitia uma travessia segura e tranquila.
Contudo, assim que entramos na via e chegamos ao meio dela, o semáforo sinalizou verde para os carros da rua que a cruza bem perto de onde estávamos e eles arrancaram para dentro dela chegando rapidamente até nós.
Então, sem faixa de pedestres e nem canteiro central para nos proteger, nos posicionei sobre a faixa dupla de separação de mãos, para que aguardássemos o momento mais favorável para terminarmos a travessia.
Naquele instante, cuja lembrança me inspirou escrever este relato, enquanto os carros passavam por nós, a minha filha não expressou qualquer preocupação com o perigo, mas se manteve serena e confiante por estar segurando a minha mão, a mão do pai.
Hoje, mais de três décadas após aquele dia, e tendo vivenciado muitas situações desafiadoras e até algumas perigosas, confirmo a existência de uma semelhança profunda entre a sensação de segurança que a minha filha teve naquele dia com a que desfrutamos quando nos sentimos acompanhados e protegidos por Deus, especialmente nos imprevistos que nos pegam de surpresa, de vez em quando em nossas vidas.
E meditando mais profundamente, também percebo detalhes, não somente da situação em si, mas também das circunstâncias e da dinâmica dela, que são elementos constantes de muitas outras situações que vivenciamos no nosso dia a dia.
A imprevisibilidade do surgimento de situações potencialmente ameaçadoras e perigosas, conjugadas à certeza de que algumas ocorrerão ao longo das nossas vidas indiferentemente da nossa fragilidade e finitude, nos leva a reconhecer que precisamos, sim, caminhar sob a companhia e a segurança do Pai para as enfrentarmos e as atravessarmos com confiança e fé.