I - Sobrevoos Noturnos
Sobrevoos noturnos
Série Crônicas – Texto I
Há poucos anos, duas cenas que vi em dois filmes de ficção científica, me trouxeram à memória uma experiência pessoal que vivenciei quando eu tinha entre cinco e sete anos de idade.
As cenas de uma corrida de veículos flutuantes num deserto e a de um mundo escuro e coberto de escombros destes filmes me fizeram voltar lá no final da década de 1960 e revivenciar as viagens que algumas vezes eu fiz enquanto dormia.
Eu nunca compreendi totalmente por que, de repente, eu me via ao guidão do que parecia ser uma moto, embora não tivesse roda dianteira e nem traseira, viajando em um compartimento que lembrava as antigas bigas romanas.
Na verdade, eu não a pilotava, mas ela me puxava pelos braços em grande velocidade sobrevoando um mundo totalmente escuro e coberto de escombros até onde a visão conseguia alcançar.
Não havia luz, nem pessoas e nem sinal de vida em lugar nenhum, apenas escombros dos quais eu só conseguia discernir as partes mais salientes que mal se sobressaíam na escuridão.
Minha pouca idade não me permitia ter nenhum juízo de valor a respeito do que eu via naqueles sonhos. Eles simplesmente aconteciam, mas aquelas visões de um mundo tenebroso e desconhecido tiveram força suficiente para me impactar e ficarem marcadas na minha mente e no meu coração até hoje.
As viagens ocorreram várias vezes, mas a cada vez, eu voltava ao ponto onde havia parado na noite anterior, até que elas cessaram e eu não as experimentei mais.
Hoje, quase seis décadas mais tarde e trilhando o caminho de Jesus há cinquenta anos, vejo uma grande semelhança entre aquele mundo que eu sobrevoava e a versão espiritual do mundo real na forma como está retratada nas escrituras.
As diversas passagens bíblicas que comprovam essa semelhança, revelam que quem não conhece a Deus e ainda não compreende a missão de Jesus Cristo, está morto em seus pecados, está entregue e guiado pelos seus instintos, está destituído da graça de Deus e vive numa escuridão que só a luz d’Ele é capaz de anular.
Só assim alguém terá um caminho iluminado para poder andar, realmente, na Sua direção.
Em certo aspecto, aqueles escombros poderiam representar as tentativas frustradas de cada um dos bilhões de habitantes do mundo para encontrar respostas às suas crises e conseguirem compreender de onde vieram, o que estão fazendo aqui e para onde estão indo.
Essa antiga falta de respostas retroalimenta um sentimento nato e subconsciente de orfandade e de solidão espiritual cuja intensidade produz, como tem produzido, ciclos de guerra e paz e de amor e ódio entre os homens ao longo da história.
Nem mesmo as muitas religiões e as suas instituições têm sido capazes de amenizar a sede e a fome da humanidade, pois os seus ensinos não podem ser bem internalizados por ninguém que ainda não tenha conhecimento pessoal de Deus. Elas não são capazes de sozinhas, restituírem a paternidade original sem que os seus ouvintes, de alguma maneira, reencontrem e reconheçam Deus como seu pai.
Só depois de uma experiência pessoal com Ele é que eles sentirão o Seu amor através do sacrifício de Jesus na cruz e, então, os seus serviços e atuações numa comunidade cristã se basearão nos motivos certos e tomarão sentido.
Na Bíblia, a multidão de pessoas alcançadas por Deus e agraciadas por esta experiência ao redor do mundo é chamada de ‘os redimidos’ os quais compõem o grande corpo de Cristo na Terra, um dos títulos alegóricos da Igreja.
Eis porque Jesus se apresentou como a luz do mundo e por que afirmou que, quem o seguir, se tornará a luz para os seus semelhantes, pois sinalizará o caminho para os que ainda estão perdidos, cansados e famintos na escuridão.
Todos estes detalhes se encaixam perfeitamente naquelas visões noturnas dos escombros que cobriam o mundo.