UM INCENSO NA MEIA NOITE DA SUA VIDA...

Ela ainda tem coisa. Coisas demais para fazer. Coisas como aquelas que as pessoas normais consideram desnecessárias, tais como ler Henry James no original ou aprender francês além do “ Bonjour, merci beaucoup, très bien” , palavras vãs, aquelas que aprendeu nas aulas rasas dos anos 70.

Tem que ler Virginia Wolf, mais Dostoievski, Hemingway, além do “Velho e o mar”, e por aí afora. Aprender sobre história da arte, e para ser a mais comum dos mortais, até mesmo fritar os ovos sem quebrar as gemas. É, tem muito que aprender desse prosaico terra a terra em demasia e destes lunáticos supérfluos da alma.

Precisa instalar um balanço em um quintal que ainda não tem, plantar uma jabuticabeira para frutificar no espaço idem, ouvir mais jazz, mas só no vinil, e principalmente Duke Elligton, isso porque Fernando Sabino gostava. E Sabino ensinou muita coisa supérflua e linda, coisas como a arte de viver rindo e de ser menino.

Ainda tem coisa. Precisa perder a fobia de dirigir em rodovias, que isso vem do medo da inerente liberdade e nem precisa ler Freud para descobrir e nem gênio para denegrir.

Ainda tem que aprender a florescer uma orquídea, dar um motivos para as plantas resistentes resistirem, e depois de tudo, deitar à rede e acender um incenso na meia noite da sua vida.

Ela ainda tem coisa. Coisa por demais para trilhar, dedilhar o vazio repleto de sinfonias. E ainda tem que conhecer Paris... tem que andar por Montmatre, passear na Rue de Fleurus, 27, onde viveu a Gertrude Stein, visitar o túmulo de Marcel Proust, porque só assim saberá que ele realmente existiu. Coisas de gente doida, alguns dizem, ou de metidos a pseudointelectuais, outros rosnam.

É tem coisa. Muitas. Desnecessárias algumas pessoas dizem, vitais ela pensa. Belas, sua alma geme.

Por que ela sabe que a vida com conhecimento se expande, amplia, mostra-lhe saídas às quais não via. É as vezes você nem precisa sair do lugar com estas descobertas. Precisa apenas riscar o caminho do sonho e ter coragem de percorre-lo.