O Algoritmo da Anistia e o Custo da Ingenuidade

No palco tropical do Brasil, onde o surreal muitas vezes se confunde com o cotidiano, a liberdade tem sido sequestrada em silêncio — não por tanques, mas por toques. Toques de dedo em telas controladas por Big Techs que fingem ser neutras enquanto ditam as regras de um mundo que gira em torno de lucros e algoritmos. Meta, TikTok, Google — plataformas que dizem conectar, mas que, no fundo, nos colonizam digitalmente.

Enquanto isso, o país assiste à tentativa de passar a limpo um dos episódios mais vergonhosos da nossa história recente: o 8 de Janeiro. Uma data que deveria servir como alerta virou mote de manobra para interesses escusos. Agora, querem anistiar. Não o cidadão comum, perdido na onda de fake news e promessas patrióticas de WhatsApp. Querem blindar os engravatados do caos, os verdadeiros financiadores da baderna — a elite que paga e assiste de camarote.

Em paralelo, o Brasil tenta, com uma mão trêmula, aprovar um projeto que responsabilize essas Big Techs pelo estrago que ajudam a causar. PLs que criam um “Código de Responsabilidade Digital” — nada além do mínimo que qualquer veículo de comunicação já enfrenta mundo afora. Mas aqui, quando se fala em regulamentar Meta, TikTok e cia, os gritos de censura soam mais alto que os de justiça.

No fundo, tudo se conecta. O mesmo sistema que ignora os danos digitais permite que empresas como Uber e iFood transformem trabalhadores em algoritmos ambulantes. Gente que vende sua força sem nenhum direito, acreditando ser dona do próprio tempo, quando, na verdade, é apenas mais um dado na planilha de lucro de uma empresa que nem sede física tem. “Empreendedor de si”, dizem. Mas não tem décimo, não tem férias, não tem dignidade.

E aí, quando o governo tenta regular isso, vem a gritaria. Não é liberdade que defendem — é o privilégio de explorar. Os donos da pauta moral querem anistiar baderneiros golpistas, mas chamam de ditadura qualquer esforço por justiça social. Um país onde o Congresso parece muitas vezes mais uma mesa de barbearia do que um centro de leis: ali se raspa a Constituição com navalha cega.

Diante disso, é difícil não se perguntar: o que mais precisa acontecer para o povo acordar? Não para pegar em armas — a violência nunca foi o caminho —, mas para tomar consciência. Consciência de que a verdadeira revolução é política, é digital, é social. De que o futuro não pode mais ser escrito por quem sempre rasgou o passado.

Anistiar golpistas e manter as Big Techs acima da lei é dizer ao povo que vale tudo — menos lutar com dignidade. Mas ainda dá tempo de reescrever essa história. A tela ainda está acesa. Só precisamos mudar o algoritmo da ingenuidade pela lógica da responsabilidade.

Sandro Almeida
Enviado por Sandro Almeida em 15/04/2025
Código do texto: T8310347
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