A Guerra da Narrativa e o Osso no Prato
Vivemos uma era em que a verdade virou artigo de luxo. Numa esquina da internet, um influencer aponta para uma etiqueta de supermercado e grita: “Olha como está caro! Culpa do governo!” Noutra, alguém compartilha uma foto de 2020 — gente a comer osso, a revirar lixo — e ninguém diz nada. A memória é curta, e a má-fé, longa.
Agora que os Estados Unidos estão novamente liderados por Donald Trump — ou *Donaltran*, como alguns se referem com um misto de deboche e receio — a tensão global escalou, mas muitos não percebem. O mundo assiste ao início de uma nova guerra: não com tanques, mas com tarifas, sanções e desinformação. Uma guerra fiscal, comercial e, sobretudo, simbólica.
No Brasil, o discurso da extrema-direita continua a moldar realidades alternativas. Influenciadores da “nova velha política” produzem vídeos com produtos sempre caros — importados, gourmetizados — e dizem: “Está tudo pior!”. Mas quem vive o dia a dia sabe: o arroz voltou à panela, o feijão ao prato, o salário já estica um pouco mais. Ainda não é o ideal, mas é digno. E dignidade, para muitos, é novidade recente.
É curioso como quem hoje grita "ditadura!" foi cúmplice do silêncio quando o povo comia resto. Na ditadura que eu conheço, quem fala contra o governo desaparece. No Brasil de hoje, quem se diz perseguido ainda faz comício, live e até churrasco com os fiéis.
O perigo maior não está apenas nas ações dos poderosos, mas na mentira que se espalha sem filtro. A mentira que transforma um governo que tenta equilibrar a balança em vilão, e transforma um ex-presidente condenado num mártir. Tudo isso enquanto o mundo assiste, e o dólar treme ao ver a China virar as costas à economia norte-americana.
Será que estamos mesmo a viver numa ditadura, ou apenas a ver o fim do privilégio de quem não sabia o gosto do osso?