A Hipocrisia que Nos Cega
No Brasil, a justiça tem lado. E não é segredo para ninguém que esse lado raramente é o dos pobres, dos pretos ou das prostitutas. O país das leis que não se aplicam a todos, das narrativas construídas a conveniência de quem detém o poder, vê-se mais uma vez diante de um espetáculo de contradição coletiva.
Quando a esquerda foi acusada de corrupção, a revolta foi implacável. Movimentos tomaram as ruas, âncoras de telejornais derramaram indignação em horário nobre, e a mídia, liderada pela onipresente TV Globo, tratou de alimentar a fogueira da ira popular. O ódio era justificado, diziam. A corrupção era intolerável, gritavam. O Brasil precisava ser passado a limpo, exigiam. Mas eis que a balança da moralidade se mostra mais seletiva do que nunca.
Agora, quando a direita se vê atolada até o pescoço em escândalos de rachadinhas, corrupção, tráfico de influência e um quase golpe de Estado, o fervor da revolta popular se esvai como fumaça. Onde estão os indignados de outrora? Onde se esconderam aqueles que clamavam por justiça? Agora, o silêncio é ensurdecedor, ou pior, transformou-se em desculpas esfarrapadas e teorias conspiratórias que tentam pintar criminosos como vítimas de perseguição.
O líder supremo da extrema-direita, acusado de articular um ataque contra os pilares da democracia, é defendido por seus seguidores como se fosse um injustiçado, um mártir. Mesmo diante das evidências, das mensagens, dos depoimentos e das provas que se acumulam como um prédio prestes a ruir, ainda há quem o exalte. Não importa quantos imóveis tenham sido adquiridos com dinheiro vivo, quantos esquemas de desvio de verba pública tenham sido revelados, quantas tentativas de enfraquecer as instituições tenham sido comprovadas – ele continua a ser defendido com fervor cego e irracional.
A pergunta que fica é: o povo é ignorante, hipócrita ou apenas maldoso? Quando a corrupção é atribuída à esquerda, o grito de guerra ressoa pelos quatro cantos do país. Mas quando é a direita que se lambuza na lama, a indignação some, e o que sobra são justificativas vazias e um apego quase religioso à figura do líder.
No fim das contas, a corrupção nunca foi o verdadeiro problema. O problema é quem está roubando e quem pode ser perdoado por isso. E, no Brasil, sabemos bem como essa seletividade funciona.