DE "PASCÁCIO PLEBEU" A NOBRE ARTICULISTA...
DE "PASCÁCIO PLEBEU" A NOBRE ARTICULISTA...
"...o ideal que sempre nos acalentou /
renascerá em outros corações".
"JOÃO DE BARRO" - canção "Luzes
da Ribalta", versão de "LIMELIGHT",
do filme de Charles Chaplin.
Os livros de Etiqueta aconselham que, para fazermos amigos mais facilmente e progredir na Vida, é preciso esquecermos o "EU", deixar de falar de nós e nos interessarmos pelo outro, o interlocutor de nossos lamentos ou sucessos, vitórias. Portanto, previno ao leitor ocasional: este depoimento inteiro, 5 ou 6 páginas, é SOBRE MIM, na primeira pessoa ! Trata-se de um "Confiteor", un histórico de PORQUÊ me tornei escritor, ainda que LER me soe como "sacrifício". Ele não substitui uma Entrevista -- até pelos "imprevistos" nela -- mas poderá colaborar complementando-a. Acrescento no final trechos de livro antigo (do ano 2000) que não pretendo publicar, pelo excesso de sinceridade (?!) e de liberdade de expressão, hoje condenáveis e CONDENADAS. Aliás, também porque usei nomes reais para personagens de alguns "contos", mera Realidade mal disfarçada.
Alan W. Watts, escritor americano, declarou faz 30 anos que... "o artista é irrelevante. Ele é encarado como mero decorador que nos entretém enquanto trabalhamos. Como menestrel itinerante, ator, palhaço ou poeta, ele pode ir por toda parte porque ninguém o leva a sério". A verdade dói... é revoltante, mas somos mesmo "descartáveis", desnecessários, IRRELEVANTES no fim das contas.
Quero crer que já gostava de escrever, ainda com "caneta" de pena de ferro e com vidro de tinta nanquim preta ou azul, isto em 1961-62, fazendo Caligrafia com temperatura de 5 ou 10 graus, no inverno infernal catarinense, com a Escola de freiras "encarapitada" sobre Morro de mais de 400 metros de altitude. Gostava de fazer Redação, Descrição e Composição, já nem lembro as diferenças entre elas, agora com caneta BIC, novidade recém-chegada lá em 1964. DESCREVER coisas, fatos, pessoas... aquilo para mim era MÁGICO, continua sendo, 60 ANOS depois !
Quando fui obrigado a ir para um Seminário, passei a invejar dois colegas de classe (ou aula) que escreviam um "diário mensal" na revistinha escolar, as "Efemérides do Sem. Menor", agora no Paraná (1965-66), ainda frio, gelado quase o ano todo, "verão" de 18 graus. Mas tinha Redação... com HIPOTESES (sem acento, hoje normalíssimo) nos meus "rabiscos", lidos por mim em voz alta, para deleite dos demais alunos, "bulling" por meses, gargalhadas que ainda ouço.
Porém, FUI EU o escolhido para fazer o discurso de boas-vindas para o Bispo diocesano, em visita ao Seminário Menor, em dez./1966... outro vexame ! Me afastei da junção das cortinas, no centro do palco e não achei a "saída" ao final da leitura do papelucho. "Fugi" pela lateral, 132 gargalhadas (só o Bispo não riu, suponho) a me "perseguirem". Jurei pra mim mesmo... pra lá eu não voltaria !
E retornei ao Rio (e ao Morro onde nasci) lá por 1968... escrevia cartas para Rádios, revistas de rock, TVs locais, amigos e parentes, até para o Governo Militar, sugerindo usar o ouro de Serra Pelada para QUITAR a imensa dívida com o desumano FMI. Não me ouviram ! Ganhava discos e revistas com tais cartas, escrevi até para o Exterior. Aprendi Inglês no CCBEU em 1974 -- era officeboy lá -- e "arranhando" o idioma me correspondia com "meio Mundo", EUA, Itália e França principalmente. Curiosamente o excelente Correios daquela época fazia chegar a mim tudo o que me enviavam... quanta diferença do atual, EBCT, ECT, etc.
A vontade de ter livro próprio só surgiria lá por 1984-85, já no Pará, com o professor vigiense José Ildone me abastecendo de obras de autores locais, Georgenor Franco Filho, Fernando Carneiro, DeCampos Ribeiro, entre os iniciais. Sabiam CONTAR HISTÓRIAS... percebi que era aquilo que eu queria ser: um NARRADOR privilegiado DO QUE VIA e ouvia ! Ildone me introduziu na IOE - Imprensa Oficial do Estado, na qual era diretor na época, responsável pelo DOE, o jornal de editais. Me emocionava ver as máquinas rodando, novo LIVRO levando as palavras E OS SONHOS de mais um escritor.
Passei a fazer livretos EM XEROX... o primeiro com 16 poetas ca cidadezinha, hoje VIGIA de Nazaré, com desenhos de SÍLVIO GUEDES, gênio "em gestação" e hoje, quase 40 ANOS depois, o maior artista e artesão da região inteira, incluindo São Caetano, S. Antônio do Tauá e Colares. Fiz às custas da cinquentenária empresa de ônibus "Estrela do Mar", 100 exemplares, capa em xerox colorida, novidade na época, fevereiro ou março de 1987. Professor Ildone patrocinou às suas expensas outros 120 livretos ! Na terra "do já teve" me parece que NINGUÉM guardou um só exemplar... nem eu, claro !
Adiante, passei a fazer os meus livretos, "tiragem" entre 10 e 50/60 exemplares, distribuidos graciosamente. Ainda em 1987 faria um "microlivro" de 7 x 10,5 cm -- página A4, "dobrada" 3 vezes -- com os belos poemas do prof. "Zézinho" (José Ribamar S. Moura) com "ilustrações" minhas, eu que NADA SEI de desenhos... raridade ímpar, DOIS LIVRETOS somente, o meu e o dele ! Acreditei que ele fosse imprimir outros, duvido que o tenha feito. O microlivro "QUASE NADA" "sumiu", porém inspirou o título de meu livreto "de estréia", 60 cópias "rodadas", "meio ofício" em 1988, com poemas e textos. Penso que no acervo da poetisa Sílvia Helena Tocantins -- eterna admiração minha -- há de ser encontrado muito do que produzi, era ela o primeiro nome de minha lista. De 1988 para cá gastei boa parte do que ganhava enquanto jornaleiro para "editar" tais livretos. Minha experiência na Redação do jornal "BALCÃO", no Rio (1982/83, ano e meio) me deu noções para realizar livretos com alguma qualidade.
Lá por junho/1989 me meti num "sururu" surgido com as novas eleições da APE - Assoc. Paraense de Escritores, onde estava cadastrado desde meados de 1988, por insistência do prof. Ildone, mas descontente "com os caminhos" trilhados pela APE, que deixava a "arraia miúda" fora das produções dela, as coletâneas e a Revista oficial. Numa ingratidão desmedida, "bati de frente" com meu padrinho literário, o poeta José Ildone -- reeleito, apesar dos meus "esforços" na direção oposta -- mas fizemos, Carlos Lima e eu 2 REVISTAS, acreditando que os "descontentes da APE" as comprariam, afinal era o ESPAÇO com o qual sonhavam. Ignoraram o número de estréia (eu "desenhando" (?!) de novo, cruzes !) e sequer conheceram o seguinte. Lima vendeu a moto dele para retirar os 500 exemplares da "Re-Vista Pô-Ética" nº 0 -- raridade absoluta, se existir -- e não conseguiu terminar a produção do segundo volume. Suponho que virou... lixo !
Ganhei um bocado de desafetos, a "alcunha" pelos jornais de "PASCÁCIO PLEBEU" -- "dei o troco" em página inteira, graças ao "mecenas" Cléodon Gondim, atuando como diretor de Redação no "Diário do Pará" na época -- e fiquei "de fora" dos 6 ou 7 volumes (de 1990 a 94/95) da coletânea sobre escritores do/no Pará, desde os 1800. Fui um dos primeiros a levar material, ainda em fins de 1989, entregue numa tarde ao Pedro, eterno funcionário do silogeu, a APL. Senti demais a injustiça, os jornais se vão, porém livros duram um bocado.
"E o que seria... PASCÁCIO" ?!, se pergunta o leitor jovem. É o mesmo que PAPALVO ! Não, não estão nos Dicionários atuais, modernos... vá até PALERMA, parvo, pateta, paspalho. Resumindo: IDIOTA ! Idiota por lutar pelos ideais de 40 ou 50 escritores sem coragem para tomarem uma atitude.
É do insigne Poeta PAES LOUREIRO este belo axioma: "O livro é como o pólen que se desprega das flores. Flutua, dança nas mãos do vento e ninguém pode prever o alcance de sua fecundação". Meu livro sai, esteja eu vivo ou morto ! Entre os 12 EBOOKS que postei no Recanto das Letras tenho já 5 ou 6 prefácios, de pessoas que nunca vi, que não me conhecem "presencialmente", como se diz. Todos atestam a QUALIDADE dos meus escritos; as dúvidas se foram, sou um ESCRITOR... articulista sempre fui, desde 1987 pelo menos, em textos no"Espaço Aberto" do jornal "Diário do Pará" e na seção de CARTAS de "O liberal". "Só me falta-me" NOBREZA... não se pode ter tudo !
Recupero breves trechos do extenso primeiro Prefácio, de fev/março de 2001, "batismo de fogo" do livro de estréia, nunca editado. Que cada um tire suas conclusões, mas não são "auto elogios", havia um país inteiro entre nós, eu em Belém e ele residindo na fronteira com o Uruguai.
HISTÓRIAS COM SEIVA DE BRASIL
(prefácio de Nelson Hoffmann, +2005)
"A formação literária de "Nato" Azevedo é de mundo e não de academia. Suas leituras são de revistas em quadrinhos e de aventuras e nada têm de canônico. (...) Os contos de “Quase Nada...” espraiam-se pelo Brasil e não são todos rigorosamente contos. Alguns ingressam no terreno da crônica, outros tecem comentários, terceiros adentram o relato de experiências vividas. Mas, todos são histórias que prendem o leitor até o fim. Esta, aliás, uma característica muito forte: o suspense dos textos, sempre com um impacto final." (...)
"O melhor da obra de "Nato" Azevedo, porém, está nas histórias que envolvem cenários amazônicos. Ali o autor é vigoroso e está em casa. (...) tem olhos para ver e ouvidos para ouvir e nariz para cheirar e tato para apalpar e gosto para sentir nuanças (...). Como tem vida e mundo no lombo e muita argúcia na cabeça, o autor nos conta histórias que raiam pelo absurdo e são de pura humanidade."
"Toda essa temática é trabalhada em estilo intencional do autor. Nada de inovações ou pirotecnias. Sempre um modo narrativo tradicional, naturalista: a interação meio x homem, homem x meio. A realidade é subvertida de forma irônica e, por vezes, acusatória. Mas, é sempre muito brasileira, COM SEIVA DE BRASIL." (grifo meu) *** escritor Prof. NELSON HOFFMANN, (Roque Gonzales, RS) autor de 'Eu Vivo só Ternuras".
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Curiosamente, os prefácios mais recentes (de 2022/23) de outros "ebooks" atuais de CONTOS 'batem na mesma tecla", se assemelham, insistindo NA QUALIDADE das obras. Já posso dormir tranquilo, sou enfim 1 ESCRITOR... para o bem ou para o mal, a Amazônia FEZ DE MIM um escritor ! Resta saber porque escrevo ! Em "CONFITEOR" (espécie de "prefácio" da citada obra) declaro que:
"De minha parte, o que me move são dois sentimentos tanto opostos quanto indistintos. O intuito, mesmo velado, de apontar erros, de corrigir o Mundo e, paralelamente, um desejo sutil de "vendetta" diante da impotência (ou inconsciência) geral frente aos fatos da Vida.
Escrever se torna bem menos prazer e lazer do que desabafo indignado (e, por vezes, virulento) por tantos "sapos" e "pepinos" que o Destino nos põe no prato da existência, mesmo quando se está farto. (...) Hoje, sou espécie de coruja de olhos arregalados para os seres (e os fatos) da Vida, tentando se possível fazer alguma presa." ("NATO" AZEVEDO, dez./2000)
Para você, que me leu até aqui, faço 1 pedido (mais do que conselho): ESCREVA, deixe suas memórias para filhos, sobrinhos e netos, conte sobre avós e bisavós, a cidade de sua infância, suas lutas, sonhos, alegrias, vitórias. São MILHÕES as Famílias SEM PASSADO, porque ninguém decidiu registrar a Vida de seus pais, além da própria. COMECE LOGO !
"NATO" AZEVEDO (em 25/março de 2025, 17hs)