POLÍTICA PARA A PESSOA IDOSA, CRISE A VISTA
Vou tocar num assunto que afeta cada vez um maior contingente de pessoas, e que futuramente vai crescer até um patamar tão alto, que extrapolará inclusive seu próprio grupo etário, interferindo de maneira avassaladora sobre os demais segmentos da população.
Interessante é constatar que tanto o setor público, em suas três esferas e até mesmo a iniciativa privada, que para muita gente se trata da solução para todos problemas nacionais, o tal do Estado mínimo, abarcando desde a educação, passando pelos transportes, assistência social e fechando com chave de ouro com a saúde, independente da complexidade da atenção dispensada.
A sensação é a de que vivemos sob cegueira coletiva generalizada, um belo exemplo vem dos transportes coletivos, que por conta de seus dirigentes definiram que gratuidade lá só é válida para aqueles com cinco anos completos, após seu efetivo ingresso na fase idosa que foi definida pelo estatuto do idoso (60 anos). Mesmo assim, já se tornou significativa sua presença nos coletivos, o que aliás incomoda muita gente, que tem como premissa que lugar de aposentado é em casa.
Dentro dessa cegueira já citada, assistimos diariamente o descaso da população, independente da idade, sexo, raça/cor que ocupam indevidamente assentos definidos como prioritário para idosos. Muito embora, avisos no interior dos veículos apelem para a educação dos usuários, definindo que qualquer assento é prioridade da turma idosa, difícil alguém se levantar para oferecer esse conforto para a turma grisalha.
Para disfarçar, alguns passageiros simulam uma soneca, esquecendo que a depender da capacidade funcional da pessoa idosa, estar de pé num veículo em movimento acaba se transformando em risco para um problema real.
Interessante notar que esse contingente da economia prateada se encontra majoritariamente composto por mulheres, que abundam em atividades com forte presença de idosos.
Nas praças em aulas de ginástica dessa cidade, nas turmas de hidroginástica em clubes, nos cursos de dança e entre coralistas prevalece o público feminino, alguns corais, devido à dificuldade de encontrarem participantes masculinos, optaram por trabalhar apenas com os naipes soprano e contralto.
Voltando às causas deste crescimento acelerado, e da feminização deste segmento, foi lá no iniciozinho da década de cinquenta que o Brasil começou um processo denominado como transição demográfica.
Naquele momento o país vivia com uma expectativa média de vida de quarenta anos, função da alta mortalidade infantil, que associada à mortalidade por causas infectocontagiosas dizimava de forma precoce a população.
Com a chegada e disseminação de vacinas e antibióticos aconteceu uma novidade, o boom demográfico, com fertilidade mantida alta e queda sem precedentes da mortalidade infantil que acompanhada de queda nos óbitos em outras faixas etárias registrou um crescimento sem precedentes em seu histórico populacional.
E essa turma oriunda dos anos cinquenta, que está agora inflacionando o contingente de idosos da nossa cidade, que contava com forte tradição na participação desse segmento em relação ao total da população.
Esse fenômeno tem como forte argumento a herança de seus tempos de capital federal, quando recebia políticos, seus familiares e assessores que vinham para mandatos políticos, e ao fim, independente do resultado das urnas fincavam moradia no balneário carioca.
Mas nem só de migrantes elitizados a cidade vivia, era constante a chegada de pau de araras, com nordestinos fugindo das prolongadas secas, associadas à completa falta de opções nos mercados de trabalho locais.
A predominância feminina no segmento idoso pode ser explicada por dois componentes principais, a desregrada vida masculina, onde rola prazer por riscos, e inclui bebida e cigarro em quantidades desafiadoras. Em contraposição à atitude masculina, mulheres sempre se preocuparam com sua saúde.
Mas o pior ainda está por vir, e chegará numa comunhão de fatores, afinal independente da vida ter sido regrada ou não, com o avançar da idade e todas doenças associadas a velhice, este público demandará espaços, sejam apenas para permanência durante o dia, mas também para internação, que como tudo para esse segmento demanda mais tempo para ser normalizado.
Até agora não conheço nenhuma política voltada especificamente para esse público, e nesse ponto as três esferas se encontram no mesmo pé de igualdade, nenhuma sequer toca no assunto. Portanto um colapso no sistema de saúde vai acontecer, só não dá para definir a partir de que ano, e depois não vai mais ter volta.
Por outro lado, a receita direcionada ao SUS, que até hoje não conseguiu atender a demanda da população, tanto pela redução de contribuintes, função do crescimento do mercado informal, como também pelo sequestro da verba de jogos de apostas, que a Constituição destinou para contemplar as já deficitárias verbas do SUS, desde o hoje longínquo ano de 1988.
Quem viver verá!