O Filtro Quebrado da Informação
Vivemos em uma era onde a informação se propaga como um vírus, multiplicando-se em velocidades que nossos cérebros não conseguem acompanhar. A sociedade da informação, idealmente construída para democratizar o conhecimento, parece ter criado um paradoxo cruel: quanto mais dados recebemos, menos conseguimos processar.
O jornalista, antes um guardião da verdade, agora se vê soterrado por um volume absurdo de notícias, fontes e versões dos fatos. Como bem aponta Ciro Marcondes Filho, a profissão entra em mutação, perdendo sua identidade, sua pessoalidade, seu poder de análise. A avalanche de informações não apenas confunde o público, mas também compromete a capacidade crítica dos próprios comunicadores. Hoje, qualquer um pode ser um "emissor", qualquer notícia pode ganhar o selo de "verdade" e qualquer mentira pode se transformar em um fenômeno viral.
Mas essa desordem informacional não se limita ao jornalismo. Ela se reflete na própria estrutura social, onde o conceito de justiça parece seguir a mesma lógica enviesada da distribuição de informações: os que possuem poder (ou dinheiro) sempre encontram maneiras de manipular a narrativa a seu favor.
O caso da jovem que aplicou um golpe milionário em colegas de universidade e hoje trabalha normalmente, enquanto uma mãe que roubou uma lata de sardinha para alimentar os filhos apodrece no sistema carcerário, ilustra essa distorção. Se a verdade é um bem em disputa, a justiça também se tornou uma questão de quem tem acesso ao microfone mais potente.
A desigualdade que impera nos tribunais é a mesma que se observa no noticiário. Crimes de colarinho branco são diluídos no emaranhado de informações, enquanto delitos praticados por quem não tem voz ou influência tornam-se manchetes sensacionalistas. A tecnologia, que deveria nos tornar mais críticos, acaba nos entorpecendo. O excesso de dados anestesia a percepção e normaliza o absurdo.
No final das contas, estamos todos diante de um filtro quebrado, onde a verdade se mistura ao ruído, e a justiça, assim como o jornalismo, parece cada vez mais uma ilusão moldada por aqueles que detêm o controle da narrativa.