Liberdade em Correntes
Era uma tarde abafada quando o avião pousou em solo brasileiro, trazendo de volta dezenas de brasileiros deportados dos Estados Unidos. Alguns com as roupas amarrotadas, outros com os olhos fundos de vergonha. Tinham deixado o Brasil cheios de bravatas, prontos para “viver o sonho americano” e escapar do que chamavam de “comunismo”, enquanto o governo daqui sequer podia ser descrito com tal rótulo.
Partiram com discursos inflamados, alardeando que não seriam governados por “um ladrão de esquerda”, como se a escolha do exílio fosse um ato de heroísmo. Lá, nos Estados Unidos, descobririam que as promessas de liberdade e prosperidade eram seletivas. Cruzaram fronteiras muitas vezes de forma ilegal, buscando um lugar ao sol, mas encontraram algemas nos pés e nas mãos.
Donald Trump, o homem que muitos desses brasileiros idolatram como símbolo de uma direita forte, tratou-os como criminosos. Não importavam os sonhos ou a dedicação ao trabalho; para o governo americano, eram apenas estatísticas em um sistema implacável. Foram amarrados, humilhados, escoltados de volta para o Brasil como se fossem uma ameaça. A ironia é que, ao abraçar a narrativa de que seriam os "heróis da direita", descobriram que não havia lugar para eles no discurso que idolatravam.
E o que fizeram os defensores das “liberdades” nas redes sociais? Silenciaram. Nenhuma palavra sobre os compatriotas que agora carregavam o peso da deportação. Nenhuma indignação contra Trump. Nenhum questionamento sobre o tipo de liberdade que defendem, onde apenas os poderosos têm o direito de sonhar.
Já no Brasil, o mesmo governo que eles desprezaram os recebeu de braços abertos. O ministro da Justiça determinou que fossem liberados, reconhecendo que eram trabalhadores, não criminosos. A ironia era gritante: aquele que eles insistiam em chamar de “ladrão comunista” foi quem lhes estendeu a mão em um momento de vulnerabilidade. E quem os amarrou, algemou e deportou foi justamente o presidente que eles veneravam.
Essa é a grande contradição do bolsonarismo. Vendem uma liberdade utópica, mas não questionam as correntes que lhes são impostas por aqueles que dizem defender. E enquanto isso, os deportados refletem, silenciosos, no voo de volta. Será que era isso que eles queriam? Era essa a promessa de liberdade que tanto alardearam? No fundo, sabiam que haviam sido apenas peças em um jogo maior, onde a liberdade é um privilégio, não um direito.
E assim, o avião pousou, trazendo não apenas pessoas, mas um silêncio constrangedor. O silêncio de quem descobriu, na prática, que os discursos de ódio e superioridade não garantem dignidade. Afinal, liberdade nunca foi sinônimo de algemas.