O Pobre de Direita e as Contradições do Cotidiano
Era uma manhã comum na fila do posto de saúde, onde o "pobre de direita" discorria sobre as maravilhas do setor privado. Vestia sua camisa de um time qualquer, comprada na feira, enquanto reclamava do tempo de espera no atendimento público. "Privatiza tudo que melhora!", dizia, com a convicção de quem acredita que o lucro é sinônimo de eficiência. O absurdo estava aí: usufruía de algo gratuito, mas pregava que o acesso deveria ser pago.
Esse mesmo pobre defendia que "os empresários sustentam o Brasil". Esquecia-se de que seu salário, sempre insuficiente, não vinha das mãos generosas de um patrão altruísta, mas da exploração sistemática de sua força de trabalho. Não percebia que, para o mercado, ele não passava de um número: uma engrenagem descartável. Se a empresa deixasse de lucrar, não haveria mais sustento, apenas a porta da rua.
Recentemente, o pobre de direita embarcou em outra cruzada ideológica: "Estão dizendo que o governo vai taxar o Pix e o cartão de crédito! Um absurdo!". Reproduzia a desinformação que consumia nas redes sociais, cuidadosamente elaborada para manter o sistema intacto. Não sabia que a Constituição impede esse tipo de taxação. Não sabia porque nunca o ensinaram a pensar criticamente; e, sinceramente, ele também não parecia muito interessado.
Nas eleições, fazia coro com aqueles que defendem "renovação". Porém, na urna, escolhia os mesmos nomes: políticos ligados ao agronegócio, médicos que se acham semideuses ou advogados que juram ser parte da elite. Não entendia que, ao votar assim, contribuía para a manutenção de um Congresso que não trabalha por ele, mas para os interesses da elite conservadora que manipula sua indignação. Eleger um presidente de esquerda e deputados de direita era como tentar acender um fogo jogando água por cima.
E assim, entre desinformação e escolhas contraditórias, seguia o pobre de direita. Um ser que reclamava da vida, mas parecia incapaz de enxergar as engrenagens que a oprimiam. Enquanto isso, o Congresso Nacional continuava sua dança cínica, aprovando leis que protegiam os interesses de poucos, enquanto a maioria mal sobrevivia.
No fundo, talvez ele não fosse burro, mas vítima de um sistema que se alimenta de sua alienação. Porém, como mudar isso se ele mesmo rejeita qualquer reflexão que o tire de sua bolha de certezas? Esse é o dilema. E até que o pobre de direita acorde, se é que vai acordar, o país continuará refém de suas escolhas.