A porta que se abre com dinheiro e a que se Arromba com fúria
No Brasil, o tratamento dado às portas diz muito sobre quem vive por trás delas. É curioso como as portas da elite — robustas, com trancas de alta tecnologia e adornadas por placas de “propriedade particular” — parecem ser tratadas com um respeito quase religioso pelos policiais. Ali, mesmo que o dono seja um criminoso confesso, a abordagem chega mansa, regada a “com licença” e “podemos entrar?”. Nesses casos, a justiça parece se vestir de luvas de seda.
Já nas favelas, onde as portas mal resistem ao vento, a conversa é outra. Ali, o protocolo é o do chute. Não importa quem mora na casa — um trabalhador honesto, uma mãe solteira ou um estudante — primeiro se entra, depois se pergunta. Lá, as portas não têm donos; têm suspeitos. E quem mora nelas já sabe: a presunção de inocência raramente passa pela viela.
Essa diferença de abordagem não é apenas um detalhe, é um retrato do Brasil. É a encenação diária da desigualdade, onde a justiça se curva ao dinheiro e pisa sobre a pobreza. Quem vive em bairros nobres goza de um manto protetor; mesmo que seja ladrão, assassino ou corrupto, há sempre um filtro, uma barreira invisível que impede que a lei pese igual. Já nos morros e nas periferias, o peso da lei chega com cacetetes e botas, sem se importar se os inocentes serão atropelados junto.
A ironia dessa realidade fica ainda mais evidente quando olhamos para os desdobramentos do 8 de janeiro. Aqueles que foram usados como massa de manobra, que acreditaram nas promessas de um salvador covarde, hoje estão mofando na Papuda. Pagaram a conta de um golpe fracassado com sua liberdade. Enquanto isso, os grandes, os líderes de cinco estrelas, estão em seus confortos: recebendo visitas, tomando suas cervejas e vivendo como se a lei fosse apenas uma sombra que nunca os alcança.
O Brasil tem duas justiças: uma para quem mora atrás das portas pesadas e outra para quem vive atrás das portas frágeis. Talvez, no fim, a questão não seja a força da porta, mas o peso do bolso de quem a tranca.