O Eterno Teatro dos Golpes
Na vastidão de um Brasil tropical, cujas entranhas carregam a riqueza da diversidade e a força de seu povo, um drama cíclico se desenrola. Desde o tempo das coroas e das botas de couro lustroso, passando pelo fardão militar até os ternos bem cortados de Brasília, existe uma força invisível, mas poderosa: a conspiração.
O palco sempre foi o mesmo – o poder. A plateia, invariavelmente, o povo. Porém, quem puxa os cordéis são os mesmos atores mascarados, ocupando posições de destaque: as elites, os militares, e um punhado de políticos que, entre sussurros e interesses, jogam um jogo de tabuleiro cujas peças são vidas humanas.
A história não mente. No alvorecer da República, a monarquia foi deposta por um golpe militar sob o pretexto de modernizar o Brasil. O reinado de Pedro II não foi substituído por um governo do povo, mas por um regime que serviu às elites agrárias e industriais, mantendo o povo na mesma condição de sempre: invisível.
Décadas depois, Getúlio Vargas emergiu com seu Estado Novo, embalado pela promessa de mudanças. Mas o que era o Estado Novo senão um golpe disfarçado, um controle centralizado que favoreceu a consolidação de mais poder nas mãos de poucos?
E então veio 1964. O Brasil, mergulhado em debates sobre reformas sociais e econômicas, foi sacudido por outro golpe, desta vez sob a bandeira do anticomunismo. Curioso que o comunismo, tão invocado como fantasma aterrador, nunca tenha realmente governado no Brasil. Ainda assim, a ditadura militar trouxe anos de censura, tortura e exílio, enquanto a corrupção corria solta nos bastidores dos quartéis.
E, mais recentemente, o passado voltou a assombrar o presente. Um ex-presidente, cercado por militares, encenou mais uma tentativa de golpe. Promessas de limpeza ética e moral eram gritos de guerra enquanto, ironicamente, as entranhas do governo se enchiam de esquemas de corrupção. Militares na ativa, pagos pelo povo, conspiraram contra a nação que juraram proteger.
E o exército, afinal, para que serve? Para defender a pátria ou para conspirar contra ela? A Previdência Social, esse calcanhar de Aquiles da política brasileira, é outro espelho da desigualdade. Enquanto o povo sofre com salários achatados e pensões miseráveis, os militares vivem em um Olimpo de privilégios, com soldos astronômicos e pensões vitalícias que ultrapassam gerações.
Quando calados, compactuam. Quem não denuncia, prevarica. E, nesse teatro, a maior tragédia é sempre do povo, que, aplaudindo ou vaiando, é quem paga a conta do espetáculo.
É hora de acordar, de exigir outro roteiro. Porque o Brasil, gigante pela própria natureza, não pode mais se contentar com governantes e instituições que conspiram contra seu próprio povo.