Obra literária de Lima Barreto se torna patrimônio imaterial do Rio
Homenagem ao patrono da Cadeira 25 da
Academia de Letras de Maringá
que orgulhosamente ocupo
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A tradição das academias de letras com 40 cadeiras tem origem na Academia Francesa, fundada em 1635 pelo cardeal Richelieu. Esta academia, conhecida como Académie Française, estabeleceu 40 cadeiras para seus membros, chamados de “imortais”. A Academia de Letras de Maringá segue essa tradição, e eu ocupo a Cadeira 25, que tem como patrono o escritor e jornalista Afonso Henrique de Lima Barreto, popularmente conhecido como Lima Barreto.
Ter como patrono um escritor e jornalista de referência sempre me encheu de orgulho, pois a Cadeira 25 da Academia de Letras de Maringá também é ocupada por um jornalista e escritor, embora eu seja mais jornalista que escritor, com seis livros publicados. Este orgulho foi renovado recentemente, quando a obra literária de Lima Barreto passou a ser considerada patrimônio cultural e imaterial do Estado do Rio de Janeiro, por meio da Lei 10.498/24, sancionada pelo governador Cláudio Castro e publicada no Diário Oficial Extra do Executivo.
A admiração pelo meu patrono na Cadeira 25 da Academia de Letras de Maringá é um presente, especialmente pelas semelhanças entre o jornalismo e a literatura. Boa parte do conteúdo factual de meus livros foi inspirado em artigos, crônicas ou ações de cunho jornalístico. Um exemplo recente foi a criação do PUiC - Prêmio Unijore de Incentivo à Leitura, que foi instituído por lei municipal e vincula o jornalismo à cultura.
O homenageado da IX edição do prêmio foi um líder ruralista, e a premiação foi inspirada na obra Brasil Rural do Século Passado, de Lima Barreto, abordando problemas que ainda persistem hoje. Seu talento segue sendo reconhecido; em 2017, ele foi homenageado na FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty), onde sua obra foi discutida em profundidade, destacando temas como a desigualdade e a vida das classes marginalizadas no Brasil.
Esses debates remontam a temas centrais em livros como Triste Fim de Policarpo Quaresma e Clara dos Anjos. A veia jornalística de Lima Barreto foi essencial para abordar temas como o feminicídio, exemplificado pelo texto "Não as matem", que integra a coletânea Vida Urbana, publicada em 1953. Esta obra faz parte da minha discreta biblioteca e inspirou meu livro da série “Coletâneas Urbanas”, no qual cito as cidades que integram a AMUSEP (Associação dos Municípios do Setentrião Paranaense).
Para reforçar a importância da lei, vale lembrar que o conceito de patrimônio imaterial foi formalmente reconhecido pela UNESCO, que criou a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, visando proteger práticas que fortalecem a diversidade cultural e a identidade dos povos. Esses elementos são considerados essenciais para a coesão social e a continuidade das tradições e dos saberes.
Joel Cardoso
Jornalista e escritor