POR DENTRO DAS REDAÇÕES...

POR DENTRO DAS REDAÇÕES...

Recente artigo do jornalista de Belém Luís Ribeiro Pinto me fez recordar minha "experiência" com redações... não, caro leitor desavisado, não se trata daqueles "rabiscos" mal escritos e que cada Autor(a) imagina ser a melhor coisa já produzida por si. Redação aqui é o local onde se REDIGE Jornais, nem falo de livros. Produzir um jornal é algo mágico, quem nele penetra (me refiro ao prédio, às Oficinas) pressente ali o que há de "renascimento diário" da Humanidade. Vou além: um Jornal tem CERTEZA de ter leitores, já um livro "SONHA" que os terá ! Escrevi num Cordel que os livros se eternizarão -- ao contrário da efemeridade de qualquer Jornal -- porque sempre haverá um caboclo, um "caipira", um indígena rabiscando folhas, unindo-as depois com cola de arroz -- ou "costurando-as" com barbante -- para formar no Futuro um rudimentar "livreto", caderninho.

Há expectativas diferentes entre a Redação que produz um Jornal, daquela que irá editar um livro ou centenas deles... nos Jornais o tema é atual, é crítico, discute situações, descreve eventos, enquanto o livro apenas cristaliza opiniões e visões particulares de cada Autor. E, em minha opinião, é bem mais fácil um jornalista tornar-se um bom escritor do que o inverso, ver um Autor qualquer transformar-se num bom jornalista. A razão primeira está no uso dos ADJETIVOS... manancial de qualquer escritor chinfrim e que devem "ser enxotados a vassouradas" pelo "foca" que ousar adentrar numa Redação, de Jornal, claro. Nas páginas destes os ADJETIVOS só atrapalham !

Troquei um Banco carioca -- onde era "office boy" de régio salário -- por um banco na Redação de um "jornal" do Rio, isso lá por 1980... explico as aspas, era um Jornal só de anúncios, já com o título de Classificados. Porém, a sensação de estar "reproduzindo o Passado", os tempos de Gutemberg era a mesma e a URGÊNCIA em pô-lo nas ruas era exatamente igual a dos grandes Jornais, espaço neurótico que anuncia o Futuro a cada dia.

Em breve, 3 anos depois, viria eu para Belém, digo, para um sitiozinho sem luz e nem coisa alguma no interior do que foi a pujante Amazônia e que -- da floresta original -- não sobrou "um pé de pau". Os 200 km ao redor de Belém "desdizem" o que se imagina matas virgens.

Mais um tempo passou e lá estava eu metido com os Jornais de Belém (de 1987 a 2003), agora como jornaleiro e me imiscuindo nas Redações para levar temas e assuntos do nosso bairro que virassem notícia e que vendessem mais jornais... na minha área, claro ! Só assim consegui apreciar a maquinaria gigantesca que produzia os exemplares.

Escritor iniciante, "rabiscador" compulsivo, tive nos chefes de Redação compreensivos "padrinhos" -- Cléodon Gondim e Hamilton Braga pelo DIÁRIO DO PARÁ, além de Anselmo Gama e Lorena Souza, via O LIBERAL -- que aturavam os caprichos daquele carioca abusado e, vez ou outra, até publicavam contos ou crônicas feitos por mim. O artigo recente do Luís R. Pinto "ressuscitou" no coração senil a EMOÇÃO que eu sentia ao subir a escadaria de mármore da Redação de "O Liberal" ou a de empurrar a porta envidraçada "de duas folhas" da antiga sede do "Diário", estando ambos na área do Ver-o-Peso.

Escreveu certa poetisa: "De saudade se vive, / de saudade se morre... / eu não quero MORRER de saudade, / eu quero VIVER / esta saudade imensa / que sinto de você!" (SÔNIA BARRETO, edit. A Noite, RJ, 1955) Pois digo o mesmo sobre os tempos em que eu visitava as Redações, em Belém !

"NATO" AZEVEDO (em 18/out. 2024, 5hs)