O Choque de Realidade das Big Techs
Era uma vez, um mundo digital que se estendia como um território sem fronteiras, onde as grandes plataformas de tecnologia se viam como soberanas. O Twitter, o Telegram, o Facebook – gigantes que orbitavam acima das nuvens, distantes dos códigos de conduta da terra firme. Cada um com sua lógica, suas regras e, sobretudo, sua falta de limites. No entanto, nesse universo aparentemente intocável, as fronteiras físicas dos países começavam a se impor.
Em terras brasileiras, o Supremo Tribunal Federal (STF) observava, de longe, o desenrolar das redes. Dentre os desafios, um era gritante: sem um representante legal no país, como a justiça poderia impor ordem? Criminosos digitais navegavam pelas plataformas como corsários, livres para disseminar ódio, desinformação e até coordenar ações ilícitas, sem que houvesse qualquer amarra que os trouxesse ao chão. O que o STF cobrava de Elon Musk, dono do Twitter, era o mínimo: uma presença física, uma responsabilidade que pudesse ser acionada nos corredores dos tribunais. Afinal, é difícil pedir justiça a um satélite em órbita.
Longe dali, a França, sempre inovadora e audaz, dava um passo mais agressivo: prender o fundador do Telegram. Um símbolo poderoso que ecoou em todo o mundo digital. O recado era claro: as constituições dos países não são documentos ornamentais. Elas são o alicerce que sustenta o direito, a ordem, a convivência em sociedade. E nenhuma empresa, por mais tecnológica, está acima delas.
A confusão que as big techs tentaram impor ao público, misturando a ideia de regulação com censura, começava a ser desmontada. Essa não era uma discussão sobre liberdade de expressão, mas sobre responsabilidade. Sobre como o poder digital não poderia se erguer como uma nova aristocracia global, imune às regras dos países que compõem seu público. Era o retorno ao básico: ninguém, absolutamente ninguém, está acima da lei.
E assim, o choque de realidade que se desenhava não era apenas um embate jurídico. Era um lembrete de que, no fim das contas, as plataformas digitais – por mais grandiosas e inovadoras que sejam – existem dentro de um mundo real, onde as leis ainda regem a vida.