Entre Preços e Olhinhos: Cuidado, você pode ser o próximo!

Algum dos meus inúmeros 20 leitores já acompanhou sua digníssima às compras? Hein, meu herói?... Já? Eu sei que sim, porque eu também já caí nessa conversinha mansa.

— É rapidinho. Já liguei até pra confirmar se o modelo ainda tá disponível.

Ela fala olhando pra gente com aquela mistura de candura e pimenta nos olhos. E lá vamos nós, firmando em cartório — e com firma reconhecida — nosso atestado de idiota.

O mais divertido é que elas ainda nos “convidam”:

— Vamos só ali, tipiquinhozinho... quero sua opinião.

Essa é a estocada final. O golpe fatal. Ela acaba de enfeitiçar nossa mente como um encantador de serpentes. A partir daí, só nos resta acompanhar aquela frágil e delicada mulher que, veja só, precisa desesperadamente da nossa opinião — como se fôssemos estilistas internacionais recém-chegados de Milão.

Entramos na loja, um espaço lindo, bem decorado. Me junto a outros quatro companheiros que tentam manter a dignidade e a ilusão de controle da situação. Um deles se levanta todo faceiro, passa as mãos por algumas peças nas araras e, pela palidez do seu rosto, posso garantir, querido leitor do Caroço de Manga, que ele se deparou com os preços.

Começa, então, minha cruzada. A cada cinco minutos, sou convocado a dar meu parecer sobre peças que, com toda certeza, na 25 de Março não passariam de R$ 19,90.

Usei todo meu repertório de elogios:

— Linda.

— Maravilhosa.

— Essa ficou show.

— Beleza.

— Caiu super bem.

Pronto. Repertório esgotado. E a prova continua. E cada vez que repito uma resposta, sou imediatamente repreendido:

— Mas você disse que a nude também ficou boa... espera aí, vou provar de novo e você decide.

E tudo recomeça.

No salão, os outros acompanhantes já não tinham mais o que fazer. Perguntei a um deles:

— Vem sempre aqui?

Ele respondeu:

— Sempre. Na verdade, já moro aqui.

E apontou para uma barraca montada no fundo da loja.

Por um instante, me veio o pensamento de que eu poderia estar na praia ou num barzinho jogando conversa fora com os amigos. Mas a imagem daqueles olhinhos lindos e sua voz sussurrando "vai pitiquinhozinho, vai..." já me fez considerar razoável a ideia de montar uma barraca vizinha à do meu amigo.