Terminar é igual fila de mercado
Perguntei de você, assim, só por curiosidade mesmo. Curiosidade besta, igual aquela vontade de tomar um sorvete em dia de frio. Coisa rápida, sem compromisso, quase sem sentimento. Segunda-feira, eu tenho preguiça até de ter saudade. E saudade sua, então, exige um esforço emocional que, sinceramente, não tô disposta a encarar antes de pelo menos três xícaras de café e um Pix inesperado na minha conta.
Mas a resposta veio. E veio como quem abre o pote de sorvete esperando flocos e encontra feijão congelado. Você terminou. Pois é. Alguém que não sou eu também teve essa experiência transcendental de ver seu lado bom e, claro, aquele lado que me fez pedir pra Santa Rita de Cássia um pouco mais de paciência.
Fiquei surpresa? Olha, nem tanto. Se tem uma coisa nesse mundo que é garantida, além de boleto vencendo e fila no mercado em dia de promoção, é que certas histórias já nascem com data de validade. Mas não me entenda mal. Não estou aqui torcendo pelo seu fracasso amoroso. Longe de mim . É só que ouvir sobre o seu término ativou aquela coisa esquisita dentro de mim, tipo quando a gente encontra um moletom velho no fundo do armário e, por um segundo, pensa que deveria usá-lo de novo, antes de lembrar que ele já tá todo furado e fede a naftalina.
Eu poderia dizer que fiquei triste. Que refleti sobre nós, sobre o que fomos e o que poderíamos ter sido. Mas, sejamos francos: tudo que eu fiz por você, faria por um milkshake do Bob’s também. Não é desprezo, é só que algumas coisas valem tanto quanto um combo com batata frita. Brincadeira.
Na verdade, eu só queria te fazer rir. Te lembrar que a vida é muito mais que um amor que não deu certo. Nem sei se você ainda tem curiosidade de ler meus textos, mas se tiver, espero que esse te faça soltar aquele riso meio abafado, meio desacreditado. Porque no fim, é só isso: a gente ri e segue.
Eu tô bem. Casei bem, casei feliz. Sei o quão bom é a vida e encontrar alguém que te entenda. E você vai encontrar também. Só precisa ter paciência. Nem sempre a fila anda rápido, às vezes ela dá aquela travada igual a esteira do mercado quando você já passou as compras todas e esqueceu de pesar a banana. Mas anda. Sempre anda.
De qualquer forma, espero que você fique bem. Que supere. Que siga sua vida. E que, se um dia sentir curiosidade sobre mim, pergunte também. Só por perguntar. Só por aquela vontade besta de saber se o sorvete era de flocos ou feijão. E quem sabe, por um segundo, eu até sinta uma pontinha de saudade. Bem pequenininha, que nem dura muito. Porque, afinal, é segunda-feira.