Não Há Vagas

Não Há Vagas

Cardoso I

A estrada se estendia à frente, uma fita de asfalto iluminada pelos faróis do carro. O céu, salpicado de estrelas, prometia uma noite tranquila, mas Mariana e Gustavo já começavam a sentir o peso da aventura sem roteiro.

A primeira pousada exibia um letreiro simples, pendendo levemente ao lado da porta de entrada. Gustavo entrou confiante, mas voltou em poucos minutos, balançando a cabeça. "Lotado."

Seguiram adiante, parando em hotéis, estalagens e até pequenas hospedarias familiares. A resposta era sempre a mesma, repetida como um refrão de música antiga: "Não há vagas." A cada negativa, o entusiasmo da viagem dava espaço a um desconforto crescente, uma inquietação que se instalava nos ombros cansados.

"Quem diria que todo mundo resolveu viajar no mesmo feriado?", Mariana resmungou, olhando pela janela.

O relógio do carro marcava quase duas da manhã quando estacionaram em um mirante à beira da estrada. Não havia outra opção. Os bancos do carro se tornaram camas improvisadas, o ar noturno entrou pelas frestas das janelas, e o silêncio tomou conta do mundo.

Mariana ajeitou a bolsa como travesseiro e sorriu no escuro. "Na próxima, reservamos antes."

Gustavo, já meio afundado no banco do motorista, riu. "E trazemos cobertores."

A viagem não saíra como planejado, mas talvez a vida fosse assim mesmo — uma sucessão de tentativas, de portas fechadas e novas estradas. O inesperado sempre encontra seu jeito de entrar, sem aviso, sem reservas.

Ivonoel cardoso
Enviado por Ivonoel cardoso em 23/03/2025
Código do texto: T8292310
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