Eu dei match com o Dr. Tédio.
Quando o jaleco era mais promissor que o profissional.
Ele chegou com o jaleco branco — uniforme de autoridade e desejo, fetichista eu fui — pedindo uma pausa pro banho. Tinha o sorriso automático de quem já transou com mais do que devia e esqueceu todas.
O cheiro era bom. O toque, mole.
A pressa, visível. A presença, ausente.
Parecia mais empenhado em checar meus sinais vitais do que em entender o ritmo do meu corpo.
E eu ali, tirando a roupa por impulso, rindo por educação, fingindo arrepio, gemendo nos pontos certos.
Ele nem notou. Performance de ambos.
No meio do ato, pensei na louça suja, na conta de luz,
e em como o lençol poderia ser menos estampado.
O "instrumento" era ok. Talvez acima da média.
Mas o ego, enorme.
"Tá gostando?", ele perguntou com orgulho de quem não percebe que a pergunta já revela tudo.
Respondi que sim. Pra ver se acabava logo.
Acabou antes do que eu merecia e durou mais do que deveria.
Clássico.
Levantei calculando onde estavam minhas chaves.
Assim que ele disparou pro banho, pensei:
Preciso ser medicada agora. Dimenidrinato, por favor.
A iluminação do banheiro — quentinha, amarelada —
as toalhas macias, o dispenser de cristal âmbar…
Me chamaram mais atenção que os minutos tenebrosos anteriores.
Agarrei as chaves. “Obrigada!”, soltei.
Ele riu e disse “tu é engraçada”.
Mas, de fato, foi um favor me atender prontamente numa segunda-feira tediosa.
Eu queria Megan Thee Stallion vibes.
Recebi cardigan da Taylor Swift.
Eu deveria ter aliviado a tensão com a ciclobenzapina da bolsa, mas a pior tensão foi escolher se isso se tornaria arrependimento ou prosa, cá estamos.