Nomes esdrúxulos de candidatos
Peguei alguns prospectos da campanha política em uma cidade e fiquei até envergonhado com os nomes e apelidos dos candidatos.
Pertencem a diversos partidos políticos ou coligações, com linhas de trabalho as mais diferentes possíveis, mas os nomes estapafúrdios estão em todos eles. Vou comentar somente aqueles que me pareceram os mais estranhos.
O primeiro nome de batismo, e provavelmente o único, que me chamou a atenção foi Valdenésio. Com um nome desses acho que não se elege e vai chorar no dia da apuração. Chorará tanto quanto soluçou, ainda criança, ao tomar consciência da extravagância de seu nome.
Uma alcunha que me chamou a atenção foi Olho Roxo. É marca de nascença daquele indivíduo. Se fosse consequência de uma surra, com certeza não se elegeria. Olho roxo depois de briga é horrível, surgem aqueles comentários maldosos. Se é numa mulher, todos vão afirmar que ela apanha do marido e, descarada, ainda continua com o mau caráter. Se for homem, ganhará o rótulo de frouxo, de fraco.
Quando eu vi a propaganda do candidato com a alcunha Rafael da Bala fiquei na dúvida. Será bala de revolver ou guloseima? Se for daquelas que crianças “adolam”, não é tão ruim. Mas, mesmo assim, o candidato provavelmente distribuirá aos possíveis eleitores uma quantidade enorme de doces e trará ainda mais cáries às bocas famintas. Seria melhor se fosse Rafael do Arroz com Feijão. Se for um projétil metálico encaixado na cápsula do cartucho do revólver, dá medo. Já pensaram o vereador armado e pronto para conseguir ganhar no grito, ou melhor, no tiro. Eu, que sou um defensor ardoroso da paz, com certeza não votaria nesse sujeito.
O inverso, o contrário, o antônimo de grande é pequeno. Como é que um sujeito com o nome de Pequeno poderá lutar pelo povo? Se fosse Gigante, até daria para acreditar. Ele abriria os braços e traria todos para perto de si.
O nome Emília não tem nada demais se minha mente fantasiosa não pensasse na personagem do Sítio do Pica-Pau-Amarelo. Emília é uma boneca de pano, e que fala. Não dá para votar em uma figura que imita a forma feminina e serve de brinquedo às meninas. Já basta que estamos cheios de bonecos nos governos. São fantoches que dizem amém a tudo, desde que recebam uma grana a mais para concordar. Se a Emília (candidata) fosse uma mulher sensual, pode ser que eu votasse e, possivelmente, não me arrependeria.
Um dos apodos inusitados foi o de Lelé. Cheguei até a conhecê-lo num boteco em que pagou algumas rodadas de cerveja para nosso time de futebol. Quando todos estavam naquele papo solto, já meios altos com as biritas, ele foi embora sem nos prometer nada e sem deixar a “saideira” paga. Acho que além de lelé da cuca ele é burro e, como diria Gabriel o Pensador, “gente burra me irrita”.
Um dos postulantes a edil foi o Irmão Tavares. Tenho certeza de que meu irmão ele não é. Deve pertencer a uma dessas religiões em que os adeptos são chamados de irmãos. Por se arvorar a candidato a vereador, deve ser pastor, porque um membro comum não teria anuência da seita.
Depois de Lelé vamos ao Nino, para ficarmos nas palavras dissílabas. De onde terá vindo a alcunha? Será de Guilhermino, Adelino ou Antônio? Não sei, mas desconfio que esse tenha sido jogador de futebol, porque no Brasil o que mais tem é jogador com nome de duas sílabas: Cafu, Didi, Lico, Pelé, Toto, Vavá e Zico, por exemplo. Se por acaso eu acertei na profissão ou no esporte preferido, sou capaz de votar nele, pois futebol, que diferentemente da política, é ótima diversão.
Depois de alguns nomes vulgares, volto a um nome próprio, ou melhor, dois, Luíza Adão. É estranho que esse Adão não esteja ligado à Eva. Aqui, Adão está amarrado em Luíza. Se ela ainda o carrega no seu nome isso significa que esse Adão é um homem feliz. Antes ter o nome Luíza encostado a Adão do que a aglutinação de Eva e Adão.
É preciso uma campanha em prol de Celso da Padaria. Se eu fosse marqueteiro usaria o horário em que ele começa a trabalhar, quando a maioria ainda está dormindo. E baseado no velho ditado, Deus ajuda quem cedo madruga, ele seria um vencedor.
Encerro a crônica com pelo menos mais cinco nomes populares estapafúrdios dos candidatos a vereadores dessa cidade.
Silvinha, não. Não voto em pessoa com cognome no diminutivo.
Nunca será gente grande para tomar fortes decisões. Uma mulher com esse apelido não se valoriza.
Farofa não enche barriga de pobre. Se o apelido fosse Arroz, Feijão ou Macarrão (ou todos os nomes juntos), ele receberia uma boa votação. O povo necessita de comida e tem que ser sustância.
Há um candidato que se chama Jânio Telhas. Não sei se Telhas é sobrenome ou apelido. Poderia ser eleito se fosse candidato a vice-prefeito, formando dobradinha com Eduardo Tijolos. Aí sim o pobre teria a casa praticamente completa.
Mas o que mais me chamou a atenção foi Osvaldo o Surdo. Como ele pode levar as necessidades da comunidade até a Câmara Municipal se ele não consegue ouvir as propostas do povo? Para falar na tribuna tem que saber ouvir.
Um que poderia ser eleito, pois já traz um instrumento de trabalho junto ao nome, é Roberto Caneta. Com uma caneta na mão, Roberto pode redigir leis que irão ajudar o povo.
Meus amigos, se me permitem dar um conselho, quando forem candidatos a vereador usem nomes comuns, como Rafael Martins, Tadeu Fernandes ou José Gomes que, mesmo não sendo eleitos, não serão motivos de chacota para o resto de suas vidas.
Aroldo Arão de Medeiros
28/10/2008