A Fotografia
Porque somos umas ariranhas seminuas nas praias do Rio, fotografei ingenuamente três obras da Literatura Portuguesa em minhas coxas. Mas, quando vi o resultado fotográfico, achei que o cenário não combinou nadinha com esses clássicos expostos tão vulgarmente em membros despudoradamente descobertos. Pelo menos a mim, pareceu que meu sinal da coxa esquerda chamou bem mais atenção do que os livros, além de me levar para os mares nunca dantes navegados de Camões, onde acabei aos pés dos barões assinalados, em Os Lusíadas.
Então, comecei a divagar...
Longe de ser uma varoa (mulher virtuosa), nasci, não sei por qual motivo, assinalada com uma folha e mais dois sinais, todos no lado esquerdo do corpo. Claro que eu tentei entender o porquê desse fenômeno estranho!
Depois de algumas conjecturas, a matemática do tempo trouxe a mim a lembrança juvenil de que os louros de uma tatuagem natural na coxa ficaram todos para Angélica que nasceu depois de mim. Por que, então, meu Deus? Perguntei ao grande Arquiteto do Universo, mergulhada em existencialismos próprios de uma quase-cantora que um dia pretendeu subir nos palcos e tirar a maior onda musical feito Gal Costa, Elis... e até que, sob as luzes da ribalta, uma pinta dessa na coxa seria um bom complemento de um vestido tipo cavadão.
Bem, minha mãe sempre recomendou aceitação e resiliência para as coisas que não posso mudar. Então, decidi continuar a caminhada e, me apropriando da filosofia de Poliana, gritei aos sete mares: que bom que a tal apresentadora, ao invés de mim, teve um "Bibbidi-Bobbidi-Boo!" na sua vida. Fosse eu, já pensou? Correria o risco de estar casada com o Luciano Huck. Isto, certamente, seria uma tragédia para ele. A Angélica é uma linda mulher!
De qualquer forma, compartilho com o narigudo o mesmo sentimento e agradecerei pela secundarização do meu sinal pelo resto da vida. Acordar todo dia e dar de cara com aquele nariz, seria um desestímulo aos meus primeiros passos matutinos; e pior que isso, seria conviver com as ideologias politiqueiras de um burguês tão ordinário que se eu continuar falando dele, vou estragar o meu texto.