Gente Fina

Gente Fina

E lá se foi mais um Dia de Finados. Para minha felicidade este é um dia de festa na minha família. É que dei a sorte de minha esposa ter nascido exatamente no Dia dos Mortos, ou no Dia de Finados, se preferir, ou no Dia dos Falecidos, embora pouco usual, ou mesmo, pasme!, no Dia dos Finos.

Pois é isso aí mesmo: o Dia de Finados tem este nome em homenagem a todos aqueles que finaram, do verbo finar: eu fino, tu finas, ele fina, nós finamos, vós finais, eles finam. E é besteira ficar finando de medo, afinal, no final tudo fina!

O verbo finar, que ora lhe apresento (não venha me dizer que já o conhecia, no máximo conhecia o findar) pode ser visto, por mais irônico que isto possa parecer, como um dos tantos verbos mortos de nossa língua. Sobrevive apenas pelo uso de sua forma substantivada, o famoso “Finados”, que ressurge das cinzas todo dia 02 de novembro!

O verbo finar é um injustiçado. Devia ser usado nos outros dias do ano também. No enterro de obesos, por exemplo, os familiares, que viram o sujeito lutar a vida toda contra a balança, perder a luta e morrer ainda tão jovem, poderiam ter o consolo de dizer que, ao menos num sentido, ele alcançou o que tanto buscou: finalmente ele é fino!

Foi só depois que descobri que um dia vou finar que compreendi um dos grandes mistérios que rondam nossa existência, que é o fato de que basta uma pessoa morrer e pronto: todos começam a se recordar de como era inteligente, bondoso, dedicado à família, divertido, honrado, espirituoso e tantas outras boas qualidades. E é tão fácil de entender, coisa tão simples, meu Deus! Mortalidade é sinônimo de finitude. Logo, gente que morre vira gente fina!