Família que atrai acidentes
A família de seu Clodoaldo Tranquili é formada por ele, sua esposa, Dinorah, e seus três filhos, Carlos, Serafim e Margot.
Os acidentes que aconteceram com essa família me foram contados pela boa senhora Dinorah.
Carlos, ou melhor, Cacae, estava brincando com seu amiguinho Tavinho, ambos com quatro anos de idade. A certa altura do passatempo com bolinhas de gude, discutiram e Tavinho pegou um pedaço de pau para bater em Cacae. Cacae rápido pegou na outra ponta do pau e naquela disputa para ficar com a arma começaram a puxar para si. Cacae um pouco mais forte conseguiu arrancar das mãos do garoto, mas que infelicidade, o pedaço de madeira veio direto para a sua boca que estava aberta. Ficou com o pau como se fosse um arpão fincado no céu da boca. O sangue jorrava impiedosamente e Dona Dinorah ligou para o marido que estava trabalhando. Logo em seguida retirou o objeto e tratou de limpar e estancar o sangue.
Clodoaldo chegou quinze minutos após o ocorrido, calmo como sempre, fazendo jus ao seu sobrenome, sentou-se na cama, pegou o filho no colo e perguntou:
- Filho está doendo?
- Cacae parou por alguns segundos seu choro e respondeu:
- Tá, pai.
Ao que Clodoaldo comenta com a mulher:
- Viste Dinorah, ele fala, então está bom.
Foram para o hospital. Cacae agarrado ao pai e motorista, como um macaco loiro, foi direto para a sala de cirurgia e levou oito pontos no céu da boca.
O segundo acidente aconteceu com seu filho Serafim. Um pequeno escorregão na sala acarpetada fê-lo deslizar com a boca aberta no carpete. A boca do rapaz ficou inchada e roxa parecendo uma personagem de filme de terror.
O mais grave dos acidentes da família foi com a filha Margot.
Numa excursão, o micro-ônibus capotou. Margot foi jogada para fora do ônibus, assim como outras moças que estavam dormindo na hora do acidente. Seu Clodoaldo, na manhã seguinte, foi de carro e depois de quatrocentos quilômetros, chegou ao hospital.
Sua filha dormia profundamente, o rosto todo riscado com vergões que a afeavam. Um dia depois, no retorno, Margot não tinha forças nem para passar margarina no pão e a xícara era entornada para o lado contrário da boca. Seu Clodoaldo começou a ficar preocupado. A menina tinha um traumatismo craniano, um pequeno coágulo de dois centímetros, o que deixou paralisado seu lado direito.
Depois de muito tratamento à base de fisioterapia a menina voltou a ser bonita como antes. Seu Clodoaldo surpreendeu a todos com a pergunta:
- Margot, cicatrizou o corte na tua orelha, né?
Ninguém tinha visto algum corte e somente ele viu tal estrago.
Dinorah contou-me que quando era moça ao tirar leite da vaca nas pastagens de seu pai, levou um coice. Mostrou-me o lugar, não a fazenda, e sim a perna, próximo à nádega.
Por fim, contou-me o que aconteceu com Clodoaldo. Quando jovem quase morreu afogado. Tomando banho na praia, caiu num buraco enorme, que se ali não existisse tal cratera, a água bateria nos joelhos.
Azar é palavra que não existe no meu dicionário.
Porém, acidentes acontecem nas melhores famílias. A família Tranquili devia seguir o conselho de Augusto Cury:
“Não há céu sem tempestade, nem caminhos sem acidentes. Não tenha medo da vida, tenha medo de não vive-la intensamente”.
Aroldo Arão de Medeiros
03/08/2007