DR. WERNELDO ERWINO HÖRB
(Da Série Personagens de Rosário do Sul)
Nos meados da Década de Sessenta a Classe Médica de Rosario Sul, composta pelos Drs. Idalino Barbosa de Freitas, Galileu do Vale, Amarinho Prates, os mais antigos e, ainda, por outros, mais novos como o Dr. Amarílio da Rosa, tiveram o seu contingente aumentado e qualificado com a Chegada do brilhante cardiologista Dr. Werneldo o qual, pela sua inteligência e qualificação acadêmica, passou a contribuir para melhoria da saúde da população .
O Dr. Werneldo logo foi arregimentado pela Escola Normal Nossa Senhora do Horto que viu, nele, a capacidade para ser Professor do Curso de Normalistas que aquela tradicional escola mantinha e que foi responsável pela qualificação de centenas de meninas que, depois de formadas, passaram a compor a classe de professoras de nossa cidade.
Mas se por um lado o Dr. Werneldo era orgulho e importante aliado de seus colegas e da Direção do Colégio do Horto, por outro, causava-lhes grande decepção, constrangimento e vergonha pois, quando bebia, ficava fora do juízo e virava protagonista de discussões e brigas, com vizinhos, com companheiros de aperitivo nos bares da cidade e de noitadas na Zona do Meretrício.
Como bebia, todo o dia, a situações constrangedoras e vergonhosas eram constantes.
Era, realmente, uma contradição que um profissional com aquela inteligência, com aquela formação, com aquele brilhantismo e competência, se transformasse totalmente, de um cidadão de bem, educado, cavalheiro e cordial em um homem temperamental e violento cujas ações ninguém, nem mesmo ele, podia prever.
São tantos e tão conhecidos os incidentes que o álcool lhe causou que, neste texto, eu vou ficar somente em um:
Contam que certa vez o Dr. Werneldo desentendeu-se com um vizinho de seu consultório que ficava ali na Rua João Brasil, depois do colégio do Seu Bandeira, e o fez com tal intensidade de ofensas verbais que o vizinho registrou um Boletim de Ocorrências, na Delegacia de Polícia.
De posse das acusações e das testemunhas oculares dos fatos, o delegado Ari Nelson da Silva o indiciou e o Promotor de Justiça o Pronunciou e foi marcada a primeira Audiência Judicial, com a oitiva das partes e das testemunhas.
Na sala de audiências o dr. Werneldo-aparentemente sóbrio, acompanhado de seu advogado foi perguntado, pelo juiz:
- Como é o seu nome? Diante da pergunta o magistrado ouviu como resposta:
- Todo o mundo me conhece nesta cidade e tu não sabes quem eu sou?
- Perplexo, o juiz de Direito, cujo nome por questões de respeito omito, dirigiu-se ao advogado do Dr. Werneldo e disse:
-Dr. Diga ao seu cliente para chamar o Juiz de Doutor.!
Ao que teve como resposta imediata, direta e pessoal do Dr. Werneldo.
-Para seu esclarecimento, doutor é um título acadêmico que deve ser dado a quem, como eu fez, pós-graduação, doutorado e defendeu teste perante uma Banca de Examinadora, de renome nacional.
-Tu és um bacharel em Direito que passou para o cargo de Juiz, em um Concurso Público. Somente isto!!!
- Perplexidade total entre serventuários da Justiça, Escrivão, e advogados das Partes.
O Juiz em profundo silêncio e, com um olhar fulminante para o Werneldo, começou a ler a Peça de Pronuncia que continha poucas páginas e, ao cabo da leitura, bateu com o martelo da Mesa e disse:
- Senhores: Diante dos fatos contidos neste processo e dos agora vividos e presenciados, por todos, neste tribunal, eu absolvo o Réu das acusações de ofensas pessoais e morais perante a parte que lhe acusa e o condeno a quinze dias prisão por DESACATO A AUTORIDADE.
Determino aos Representantes da Autoridade Policial, aqui presentes, que o conduzam ao Presidio Municipal, devendo ser recolhido em cela privativa em razão de sua formação em Curso Superior. Cumpra-se!
Está encerrado o julgamento.
Os integrantes da Brigada Militar tendo a frente o velho Soldado Ari Leão, dirigiram-se ao Dr. Werneldo e deram-lhe voz de prisão à qual, altivamente, ele se submeteu.
O Plenário da Audiência se tornou vazio e seu advogado de defesa, acompanhou-o até o Presidio que ficava nos fundos da Prefeitura Municipal e averiguou que as condições da Prisão Especial determinada pelo Juiz, estavam corretas e foram,fielmente, cumpridas.
(Recanto da Ana e do Erner 25.10.24- Capão Novo)